Pelas explicações que encaminhou ao T1 Notícias, da jornalista Roberta Tum, acerca de suas andanças pelo Sudeste do Estado, o deputado Ricardo Ayres pensava dar um giro, entregando cestas básicas, e fez um jirau.
Reconheça-se que o pedido de desculpas, ainda que tenha recebido na nota encadeamento posicional de ordem secundária, insinua a possibilidade do engano. Não se pede desculpas quando não há o que se desculpar. O problema é que desculpas não são vacina.
Aliás, recebe importância maior na nota a acusação do deputado aos moradores da cidade que o denunciaram publicamente, de estarem fazendo uso eleitoral da doença.
Quando, de fato, quem assim procedia, tudo indica, era justamente o parlamentar distribuindo cestas básicas. Perambulando pelas cidades, ruas, comércio, feiras, com seus correligionários, mesmo alegando uso de máscaras que, como se sabe, não protege totalmente o cidadão.
A mesma licenciosidade que teve o parlamentar para, depois de sentir sintomas, realizar um exame, e não se preocupar em sair por cidades sem saber se estaria contaminado ou não, como de fato estava, sujeitando a população ao vírus que imaginava carregar e que, comprovou-se dois dias depois, tinha no sangue.
Sem deixar de lado que o Estado está sob um decreto de calamidade (aprovado pelo parlamentar) que recomenda à população restrições de locomoção, proíbe agrupamentos e determina o isolamento social.
Na lógica, Ricardo Ayres poderia ser refutado por seus próprios argumentos. O denominado retorsio argumenti. O que aponta a seu favor pode ser mais bem utilizado contra ele próprio.
Poderia apenas ter reconhecido o erro e pedido desculpas. Não imunizaria a população, mas poderia dela obter alguma compaixão. Mas optou por não descer do palanque certificando que o que fazia mesmo era uma ação eleitoral como a nota aponta na forma como são encadeadas as proposições argumentativas de sua defesa que se apresentam mais como um ataque do que como rendição ao bom senso.