Sempre defendi o humor e humorista livres. Atuei no teatro amador em Goiás por quase 15 anos, participando de festivais nacionais em Canela, Salvador, Rio de janeiro e outras capitais e cidades que me fogem à memoria sessentona indo para os setenta, sempre com personagens humorísticos, exceção a Dorotéia, de Nelson Rodrigues. 

Em Canela, já na década de 80, o presidente do Juri, Paulo Betti, orientou-me mudar-me para o Rio. O mesmo já me tinha sido feito pelo humorista Felipe Carone no festival ali no Teatro de Artes e Ofícios, na capital fluminense quando compunha o corpo de jurados. Carone, à época, fazia humorísticos na Globo.

Meu pai , um pedreiro baiano, que veio a pé da Bahia para Porto Nacional, se contrapôs: vai estudar, muleque. Ou seja, apoio zero na artisticidade numa época em que o país vivia a ditadura militar e eu me dedicava à faculdade de Direito da Universidade Federal de Goás. Um pouco de leitura, intuo hoje, daria uma boa substância e referenciais ao humor intuitivo.

O artista é livre para expressar sua arte. Nas redes sociais, nos últimos dias, o humorista Paulo Vieira queixa-se de críticas pesadas que tem recebido. Ele e sua família. Relata racismo e que tais à piada que fez com o dono da Havan pretextando ironizar os bolsonaristas.

A piada de Paulo Vieira não teve graça alguma. Afinal, que sorriso alegre e saudável poderia despertar em um ser humano desejar a morte de alguém ainda que adversário ou inimigo?Pior, pode ser nem isto pelo que se conhece da alma de Paulo Vieira. Paulo Vieira é um guerreiro e tem suas qualidades artísticas. E também predicados humanos elevados, do ponto de vista ético e moral..

Hoje, por exemplo, as pessoas não podem fazer piadas com negros, homossexuais e que tais no politicamente correto retraindo o humor (Chico Anysio, Jô Soares, Agildo Ribeiro, Costinha morreriam de fome) por que motivos poderiam fazê-lo como o fez Paulo Vieira?

É um debate que necessita ser feito. Isto para não passar a impressão de que Paulo Vieira ou outros humoristas criativos que já foram criticados por seu humor, como o Porta dos Fundos, por exemplo, façam parecer que o humor livre não é uma via de mão dupla e sim uma crítica destinada apenas a amplificação de conflitos e imagem.

Piadas determinadas por discricionariedades artísticas em função de réguas particulares. Contra o negro não pode, mas pode contra o”véio” branco bolsonarista da Havan que, antes de ser bolsonarista, é, logicamente um velho e branco, com direito a igual expressão política. Não vi ainda piada sobre negro bolsonarista.

Paulo Vieira é um grande artista e também compositor. Escrevi neste blog sobre uma de suas canções gravadas pela fantástica Monica Soares (bem ali de Ponte Alta mas também de expressão nacional) no seu primeiro CD Cara, há 12 anos.

Paulo Vieira assinava A pedra da Baliza e Tereza do Norte, que eu considerava a faixa melhor elaborada do trabalho, com características mais regionais, ainda que o CD de Monica carregasse mais do pop.  De forma que, o  que seria um artigo de Cara, terminou sendo da Tereza do Norte, de Vieira. 

Ou seja, quase uma década antes da Globo quando apenas os amigos o percebiam como um grande artista. Sem qualquer espaço nos meios de comunicação que sequer dele tinham conhecimento que dirá de sua obra.

Mas nessa piada, ele perdeu a mão. Ainda que tenha ganho o jogo da audiência. É avaliar o resultado que melhor lhe acrescentaria e a seus admiradores.

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