A decisão manifestada pública ontem pela ex-senadora Kátia Abreu de optar pela iniciativa privada após cerca de três décadas na política, tem diversos recortes mas três deles mais nítidos.

A decisão se dá quando a ex-senadora ocupa um cargo remunerado de conselheira na administração da JBS (representando o BNDES por indicação do presidente Lula) que combateu e é nomerada representante da sociedade civil  no Conselho do Observatório da Democracia da Advocacia Geral da União. 

Vamos aos recortes:

1)Primeiro, uma obviedade: Kátia sempre foi mais empreendedora do que política. Traça metas e busca desempenho. É a favor do estado mínimo e quando optou pela política já tinha suas posses. E não aceitava o toma-lá-dá-cá rotineiro do meio em que convivia.

Sempre manteve relação próxima com os chefes dos poderes institucionais. Daí ser repetidamente acusada, sem qualquer comprovação, de estar por trás de decisões judiciais das cortes superiores contra políticos regionais.

Em larga medida, um fantasma inventado pelos adversários atingidos e que ela deixa seguir porque, intuo, deve trazer-lhe ativos políticos.E inibir novos desvios que sempre execrou.

Isto a afastou dos políticos tradicionais. Estaria fechado aí o primeiro elo da corrente que a levaria às circunstâncias e posicionamento político atuais.

2)Desde as eleições de 2002 quando obteve a terceira maior votação proporcional para deputada federal no país (12,55% dos votos) sua forma de fazer política, entretanto, levou a ex-senadora a perder ativos eleitorais mais do que ganhar.

Enfrentou o grupo de Siqueira Campos em 2006, impondo uma fragorosa derrota ao filho, então senador Eduardo Siqueira Campos, por 51,08% a 44,16% na disputa pela única vaga no Senado. Com o MDB.

A supremacia das urnas sobre Siqueira em 2006 a catapultou a uma disputa ao governo em 2010, de que abriu mão para entregar novamente a oportunidade ao ex-governador, deixando incrédulos seus apoiadores.

Foi Kátia indiscutivelmente o motor da eleição siqueirista sobre Carlos Gaguim, então do MDB.

Kátia deu uma guinada novamente em 2014 indo às urnas contra o grupo de Siqueira. Foi a peça chave, não só na candidatura, mas eleição de Marcelo Miranda, do MDB, com quem rachou antes mesmo da posse.

3)Daí poder-se-ia apontar essa instabilidade preponderante no seu desempenho nas urnas. Após os êxitos de 2002 e 2006, por pouco não foi derrotada em 2014 (na chapa do MDB) pelo hoje senador Eduardo Gomes (que á época estava sem mandato) por 41,64% a 40,77% dos votos.

Amargou, na eleição seguinte, a quarta colocação na disputa pelo governo nas eleições suplementares de 2018 (15,66%) e em 2022 foi derrotada, na disputa pela reeleição no Senado, pela então deputada Dorinha Seabra pela numérica diferença de 50,42% para 18,50%.

E isto depois de ter sido Ministra da Agricultura, do governo petista de Dilma Roussef, e comandar por uma década o setor responsável por 30% dos empregos e do PIB do país, na presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do País.

Fato que a obrigava a permanecer mais fora do que dentro do Estado. O ovo da serpente do seu desempenho. E aí, talvez, o segundo elo da corrente.

É provável que Kátia Abreu tenha se dado um período sabático fora da política. Ou tenha decidido por retornar onde começou. E de lá possa operar uma eventual campanha do filho, senador Irajá Abreu, ao governo daqui a três anos.

Quando poderá enfrentar novamente outro conflito do eleitor: a dúvida se a ex-senadora e política tivesse sido substituída pela mãe (ou nunca estivessem divididos) na administração dos problemas que enfrentou nas eleições de 2022 com o próprio Irajá.

Fecharia, assim, o último elo da corrente que a levaria, agora, da política à iniciativa privada.

Evidentemente que problemas de relação entre familiares na política do Estado não são novidade. Inclusive nos dias atuais. A diferença é como os pais os enfrentam na administração do público e do privado.

Deixe seu comentário:

Ponto Cartesiano

O Republicanos surfa no desgaste da relação Podemos/Agir e que implica, de modo colateral, no projeto da federação UB/PP. No interior do Estado vai...

A movimentação processual da Procuradoria Geral da República na noite de ontem no pedido de revogação da prisão preventiva do pre...

A nota publicada pela Prefeitura de Palmas nesta madrugada justificando as demissões publicadas no Diário Oficial da noite de ontem dá col...