A resistência de Lucas Meira em entregar o cargo de vice na chapa de Cínthia Ribeiro tem a medida da oposição do deputado federal Carlos Gaguim à mudança. Assim como dos interesses nela contidos. E, lógico, do Palácio Araguaia para onde Meira teve deslocada sua base política de enfrentamento, posto isolado na direção partidária e na prefeitura. A saida, como se avalia nos bastidores, pode ser um processo de expulsão.
Na última quarta apontei em primeira mão aqui os supostos motivos da decisão da prefeita de substitui-lo na chapa. Era uma indicação indiscutível de Carlos Gaguim. Na contramão do que pensa a presidente regional, Dorinha Seabra, não afeita a conchavos do gênero, o deputado federal radicaliza na sua escolha. E que, por conclusão obvia, favorece carga da oposição à prefeita.
Leia o que se divulgou sobre o grupo denunciado e do qual aponta-se a participação de Lucas Meira (que seria um dos denunciados) e sua família. Ele (e a famíia) se defendem. Negam. Pode não ser culpado de coisa alguma. Mas a situação, em política, é um tsumani. E as operações da polícia e do Ministério Público de Goiás são públicas.
Em 2017 o Ministério Público de Goiás descobriu jovens filhos de fazendeiros e de políticos que eram beneficiários de Programa Jovem Aprendiz. À época, a dispensa de 5.000 jovens inscritos no Programa Jovem Cidadão, firmado entre o Governo de Goiás e a Fundação Pró-Cerrado teve como pano de fundo a continuidade de um contrato que, tudo indica, começou irregular com o sugestivo nome de "Termo de Colaboração", porque não houve licitação que conferisse legalidade ao processo e que por diversas vezes teve pareceres contrários à continuidade pela Procuradoria-Geral do Estado, Controladoria Geral do Estado e até da Advocacia Setorial durante o governo que o firmou. Naquele ano (2017) a relação comercial entre o Estado de Goiás e a Fundação Pró-Cerrado foi de pouco mais de R$ 50 milhões, ou R$ 5,902 milhões mensais*, sendo que o pagamento nunca atrasou nenhum dia. Para 2018 da FPC (Fundação Pró-Cerrado) tinha intenção de ampliar o contrato em mais de 40%, passando para astronômicos R$ 70,835 milhões. Mas, a torneira foi fechada quando o governo resolveu acatar a orientação da PGE, da CGE e reviu os atos que haviam sido praticados. Cancelando o contrato com os 5.000 jovens. Um relatório conclusivo de auditoria feito pela Controladoria Geral do Estado esmiuçou o "Termo de Colaboração". Os técnicos apontaram que houve a inclusão de critérios restritivos à concorrência, que não houve avaliação da capacidade financeira para o contrato, que critérios muito subjetivos e dirigidos retiraram a capacidade de participação de outras entidades como Espro, CIEE, CAMP, Fundação Crescer e Centro Salesiano do Menor. Mesmo assim *a Renapsi, uma subsidiária da Fundação Pró-Cerrado, venceu o chamamento por ser a única habilitada, mesmo sem possuir sede em Goiás, como exigia o edital. TERMO DE COLABORAÇÃO O "Termo de Colaboração" destinava-se a atender jovens adolescentes de 14 a 17 anos que receberiam uma ajuda de custo para serem aprendizes e começarem a ser inseridos no mercado de trabalho. *Para cada jovem o Estado pagaria R$ 1.120,00 e empregaria 3.624 indivíduos. O valor anual do contrato seria de R$ 48,7 milhões. Em janeiro de 2017, um Segundo Termo Aditivo ao contrato foi acrescido, passando para 5.000 jovens beneficiados ao valor individual de R$ 1.180,55 e um total de R$ 50,173 milhões anuais*. Porém cada jovem recebia apenas R$ 428,00, ou seja, os R$ 752,00 ficavam no caixa da Fundação Pró-Cerrado, como "taxa administrativa e pagamento de encargos trabalhistas". Essa assinatura do contrato e os aditivos firmados foram duramente atacados pela CGE e PGE, sob a firme convicção dos técnicos de que o "Termo de Colaboração" apresentava vícios de ilegalidade desde o início. Os advogados recomendaram a suspensão imediata do contrato de parceria, A cereja do bolo ficou por conta de um ofício do Ministério Público de Novo Gama que apareceu no compêndio de documentos do "Termo de Colaboração". Nele a promotora de Justiça Tarsila Costa Guimarães revela que o MP descobriu a existência de "vários adolescentes, que no momento da admissão, possuíam renda familiar mensal superior à exigida" para figurarem no Programa Jovem Cidadão. Há denúncias no MP que filhos de fazendeiros e filhos de políticos da região eram contemplados, mesmo não sendo hipossuficientes. O diretor da Fundação Pró-Cerrado e sua subsidiária, Renapsi, é o empresário Adair Antônio de Freitas Meira, dono de veículos de comunicação, empresa de transporte coletivo de passageiros e dono de ONGs que em tese não teriam qualquer lucro. Ele foi preso em março de 2017 na esteira da Operação Terceiro Setor e responde a ação criminal por corrupção, formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude a licitação. O MP/GO o acusou junto a outros envolvidos, inclusive um promotor de Justiça, de transferir ilegalmente para a Funser (Fundação Universitária do Cerrado) outra ONG que ele presidia. Seu poder de ação vai a ponto de derrubar ministro, como foi o caso de Carlos Lupi, em 2011. OPERAÇÃO QUARTO SETOR *Em março de 2017, foram autuados pela desembargadora Elizabeth Maria da Silva (MP/GO) oito envolvidos em crimes que acarretaram prejuízo à Universidade Estadual de Goiás (UEG) em valor superior a R$ 10 milhões*. *Os denunciados* Marcelo Henrique dos Santos, Adair Antônio de Freitas Meira, Luiz Antônio Arantes, Francisco Afonso de Paulo, Antônio Fernandes Júnior, *Lucas Vieira da Silva Meira* e Lívia Baylão de Morais foram acusados dos crimes de peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e dispensa indevida de licitação. Conforme consta na denúncia *o esquema era liderado por Adair Meira (pai do Lucas Meira) que é dirigente de várias entidades de terceiro setor e sócio proprietário de inúmeras empresas privadas*. Desse modo, ele atuou para que R$ 10 milhões da UEG fossem ilegalmente transferidos para a Fundação Universitária do Cerrado (Funcer), atualmente Funser, a qual ele presidia. Adair foi auxiliado ainda pelo então reitor da UEG, Luiz Arantes e, à época gerente de contratos da UEG, Francisco Afonso. Colaboraram também com a organização o denunciado Antônio Fernandes, conhecido como "Toninho", braço direito de Adair e que, além de ter desempenhado a função de administrador-gerente na Funcer, também sucedeu, a partir de 10 de maio de 2015, o denunciado Adair Meira na presidência da instituição e, atualmente, ainda ocupa o cargo da presidência.