Decidira não entrar no assunto pelo que de anacrônico e atraso representa. Volto atrás porque, continuada, a estratégia é maléfica à democracia.

Ganhou as redes sociais dias atrás (e alguns portais o trataram com estardalhaço) que a prefeita Cínthia Ribeiro (PSDB) teria sido flagrada deitando o sarrafo no governador Wanderlei Barbosa numa mesa de restaurante com a ex-senadora Kátia Abreu (integrante do governo Lula, do PT). Uma traição, na linguagem dos tais.

O episódio controverso teria chegado ao Governador e demais gladiadores por espaço no Palácio por “notinhas” divulgadas – sem a devida apuração, óbvio – repassadas pelos “olheiros” e “ouvidores” que buscam coisa menor: reconhecimento e uns trocados.

Na verdade, há um fogo amigo no Palácio intenso. O próprio vice, Laurez Moreira, é objeto dos tais olheiros e ouvidores. Mas, inteligente, tem feito ouvidos moucos e mantém uma relação de confiança e amizade com Wanderlei Barbosa.

Sabe que o cargo de governador, independente dos olheiros e ouvidores, vai cair-lhe no colo em abril de 2026, se Wanderlei mantiver a disposição de disputar uma vaga no Senado. E sua reeleição no cargo de governador é uma imposição legal. E não de arapongagem circunstancial.

Vamos primeiro ao óbvio: uma prefeita de Capital escolher o restaurante mais concorrido e badalado da cidade (onde os políticos banqueteiam e bebem, alguns com recursos públicos) para falar mal de um governador aliado, a uma ex-senadora, hoje na oposição e com um filho declaradamente adversário na tribuna do Senado, não é mais coisa para analista político e sim de psiquiatra.

E, pelo que se sabe, Cínthia ainda não está metida numa camisa de força. Pelo contrário, tem realçado lealdade a Wanderlei e com uma transparência impecável: já disse ao Chefe do Executivo se a candidato do Palácio for Janad, ela não sobe no palanque. Mais claro impossível e as razões são públicas.

Nas atuais circunstâncias o candidato do governo em Palmas precisa mais dela do que o contrário. No popular: o Palácio Araguaia necessita do votos dos eleitores de Cínthia não só no primeiro turno. E isto não é só avaliação política, mas matemática e estatística.

Fui apurar o caso. Cínthia saira de Taquaruçu (da posse de Roberto Pires na Fieto) e chamara assessores para despachar enquanto se alimentava. Ali já estavam a ex-senadora Kátia Abreu e o presidente da Câmara de Palmas, José do Lago Folha Filho reunidos. 

Kátia e Cínthia são amigas de longa data, não há dúvida. Trocaram amenidades, a ex-senadora teria chamado  a prefeita para a sua mesa e Cínthia fez os depachos com os secretários.

Isto na linguagem dos olheiros e ouvidores teria se transformado numa assembleia pública contra Wanderlei, com o encaminhamento de deliberações políticas eleitorais.

Com uma platéia seletiva: os comensuais do restaurante de classe de renda alta. E que ganhou notoriedade justamente pela frequência dos políticos na Arse 21.

Mudou-se para área de renda mais alta ainda: no quintal de um condomínio de luxo. Mas de frente para as mazelas da saúde pública do HGP com os pobres e negros nas macas dos corredores e "bichos" na comida. Devem os frequentadores, políticos ou não, realizarem uma catarse diária.

Substituiu, na verdade, o Posto do Reced (Arse 14/Vila dos Deputados) que era o quartel general dos siqueiristas da velha guarda na espera pela cassação de Marcelo Miranda. Só que com um pouco mais de estilo. E lindas mulheres.

Resultado: dois dias depois (ontem) Wanderlei Barbosa é enquadrado numa foto com os senadores Eduardo Gomes e Dorinha Seabra e o federal Vicentinho Junior (PL, UB e PP), dando a entender o que há muito se especula: apoio à candidata do grupo, Janad Valcari (PL). Antípoda da prefeita.

O Governador tem o direito de apoiar aquele que lhe aprouver. Ainda não declarou o preferido. É da democracia e foi eleito legitimamente pelo voto. A eleição é municipal. E Cínthia também de buscar outro candidato, como já declarou, numa eventual escolha de Wanderlei recair sobre Janad.

Para efeito de paralelismo, é como se Wanderlei fosse, por questão de afinidade com seus aliados,  levado a apoiar Irajá Abreu ou mesmo Mauro Carlesse.

A espécie é a forma: ouvidores e olheiros remontam a estratégia implantada no Estado, no seu ínicio, pelo siqueirismo. Mas vem de muito longe, da ditadura militar.

Nos governos militares, se você comprasse dois ou três frangos assados em televisão de cachorro, o português olheiro e dedo-duro batia a mão no Orelhão e informava aos arapongas que algo era suspeito. Afinal você só comprava um frango por dia e de uma hora para outra pagava três, não estava certo!!! Tinha alguma coisa aí!!

Cínthia encontrar-se com Kátia num restaurante badalado, à luz do dia!!! Tem alguma coisa aí!!

Jair Bolsonaro não só fez mal às instituições. Mas à política e às pessoas.

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1 Comentário(s)

  • Paulo prado
    24/03/2024

    Excelente artigo. claro e conciso

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