Campanhas eleitorais são, por natureza, produtoras de falsos dilemas e conflitos lógicos. Um aúdio vazado nas redes sociais ontem reproduz uma conversa (gravada não se sabe  com autorização) de um candidato a vereador que teve sua candidatura impugnada (Nelcivan Feitosa) e o senador Eduardo Gomes.

Deve ser um dos raros casos em que se viraliza uma conversa telefônica com um político com uma finalidade e o resultado, na demonstração das premissas e sugerida proposição eleitoral, se dá de modo completamente diverso. A prova, ao invés de prover, desprovê.

Afinal, em épocas de lavajatismo, recairia nos ineditismos (e por que não anedotário) conversas de políticos gravadas e amplificadas nas redes sociais, pretextando presuntivos escândalos, quando espelham diálogos prosaicos. Sem qualquer indicativo de crime e que, deduz-se, atenda apenas aos interesses de quem os vazou sem atentar para a contradição entre o vazado e sua finalidade.

E se viraliza sem mirar-se no objeto: uma conversa gravada entre um senador eleito (líder do governo federal no Congresso) e um candidato a vereador (que ainda não passou pelas urnas) que teve sua impugnação decidida pela Justiça Eleitoral por ser inelegível.

Razões jurídicas da Justiça Eleitoral: cumpriu sentença por homicídio tentado que expirou em 2018, conforme certificação da Vara Criminal. No caso, a Lei da Ficha Limpa determina inelegibilidade de oito anos após o cumprimento da pena. Inquestionável.

O Senador liga para o Pastor para dizer que não teria nada com a impugnação (e não teria mesmo, a causa da impugnação tem origem na ação do próprio candidato) de sua candidatura , que respeita o candidato, que está em Palmas há 30 anos e que nunca falou mal de adversários e que respeita a sua luta (de Nelcivan).

Segue o Senador: que sabe que ele é um cara duro, mas que sabe respeitar do mesmo jeito. E se coloca à disposição do pastor candidato para ir à sua casa e explicar pessoalmente qualquer dúvida do ex-candidato sobre o assunto. "Não posso aceitar que façam um fuxico em meu nome", diz Eduardo no áudio.

O candidato impugnado diz que ele (Eduardo) não precisa ir à sua casa, não, que o "caba"  (que teria pedido a impugnação) era "seu assessor" (o pastor o acusa sugerindo que um ex-assessor, demitido há mais de ano, seria o braço de Eduardo na impugnação), que não está brincando com ninguém e que agora irá arrochar. "Vocês revertam essa situação aí, que não estou brincando com ninguém".

Como é óbvio, o conserto da candidatura (legalmente não há), se acontecer se dará, no estado democrático e de direito, pela via judicial e legal e não no arrocho. Recursos na Justiça Eleitoral a que tem direito o candidato impugnado.

A prevalecer o dedaço de um Senador (premido e espremido pelo "arrocho do home") para esta reversão, se estaria diante de outro conflito: o candidato impugnado esgrime em sua defesa a proposição de condutas ao Senador que, paradoxal e contraditoriamente, aponta terem ocorrido na sua exclusão. A que o Senador, na gravação, diz não.

O curioso disso tudo é que o candidato que teve sua candidatura impugnada foi condenado liminarmente pelo juiz eleitoral Lauro Maia, no dia 16 de setembro, por praticar contra a prefeita Cínthia Ribeiro justamente aquilo que supõe ter feito Eduardo Gomes contra ele: ultrapassar os limites da liberdade de expressão e agir contrariamente aos dispositivos legais em favor de supostos interesses pessoais.

 

 

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Ponto Cartesiano

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