Tudo indica que não seria apenas nos critérios de distribuição/instalação que a Secretaria de Saúde teria problemas com as UTIs Covid -19 no Estado.
Na coletiva de imprensa ontem o secretário de Saúde, Edgar Tolini, requereu mérito nas 168 UTIs que disse já ter instalado no Estado (hospitais públicos e complementares estadualizados).
No mesmo dia lá no mapa de ocupação hospitalar a Saúde registrava apenas 167 UTIs (já computando as seis infantis). Em reais, uma diferença de R$ 48 mil mensais (pelo custo de R$ 1,6 mil pago pelo SUS por unidade).
Nesta terça, destes leitos apenas 13 estavam disponíveis. Somando as seis infantis. E havia 16 pacientes na fila de espera de uma UTI. Depois de Palmas (seis na fila), vinha Porto Nacional com três pacientes esperando uma UTI. Gurupi, para onde o governo mandou 36 leitos, havia um na fila.
Porto (6.776 contaminados) registrava ontem 77% dos casos de Gurupi (8.757). A cidade, entretanto, já enterrou 128 pessoas e Gurupi perdeu 136 moradores. Para não perder o fio: Porto tem 77% dos casos e 94% dos mortos registrados em Gurupi. Porto não tem UTI e Gurupi recebeu 36.
Uma lógica rudimentar determinaria que Porto tivesse pelo menos 77% das UTIs de Gurupi dada a relação de contaminados. Ou seja, 27 UTIs contra as 36 de Gurupi. Mas, repito, tem zero UTIs. O governo deve uma demonstração da lógica que desenvolve.
E aí outra questão: emparedados, os sete deputados estaduais e o vice-governador divulgaram no portal da Assembléia no último sábado, que em função dos seus esforços intensos, o governo decidira instalar 10 UTIs em Porto até o próximo sábado.
Pela relação de contaminados Gurupi/Porto, ainda ficará devendo 17 UTIs à cidade. Outra anomalia política: as UTIs teriam sido determinadas pelo governo federal após pedido oficial do deputado Vicente Junior ao ex-ministro Eduardo Pazuello. E não dos deputados portuenses da base governista. São leitos habilitados.
Para finalizar, o governo está anunciando mais 10 UTIs em Araguaina e em Paraíso (que também não as tem). A não ser que as instale com recursos próprios, o Ministério da Saúde autorizou (conforme ofício em poder deste blog) no último dia 26 de março (já com o novo ministro Marcelo Queiroga) mais 10 UTIs no Estado.
Serão cinco no Hospital Osvaldo Cruz (Palmas) e outras cinco no Hospital Regional de Gurupi. Ao custo de R$ 480 mil mensais as dez UTIs (R$ 240 mil para Osvaldo Cruz e R$ 240 mil para o HRG). Ou seja, Gurupi ficaria com 41 UTIs. Só menos que as 68 de Araguaína ou que as 61 de Palmas.
Palmas tem 36.163 contaminados (381 óbitos), Araguaína, 24.524 casos (316 mortos) e Gurupi até ontem registrava 8.757 contaminados e 136 óbitos. Deve haver alguma lógica que não cartesiana para a discrepância entre contaminados, óbitos e UTIs instaladas.
A dúvida é: quais UTIs estão sendo instaladas com recursos do governo federal e quantas são com recursos próprios do governo estadual. As federais já saem com destinação especifica. As estaduais são orientadas pela vontade política do governo estadual.
Como é previsível, a situação atrai insegurança e questionamentos quanto à transparência das decisões, fazendo com que o governo perca ativos sobre as medidas de combate ao Covid-19 no Estado. A maioria acertada mas que é contaminada pela imprecisão dos números.