Quando escrevi sobre as ilegalidades dos reajustes concedidos por Sandoval Cardoso em 2014, servidores públicos fizeram uma espécie de campanha contra este blog. Os benefícios eleitoreiros do ex-governador então candidato à reeleição eram indiscutivelmente ilegais e imorais. Não havia qualquer dúvida. Sandoval, como é notório, perdeu para Marcelo Miranda que, entretanto, manteve, no seu governo, o mesmo viés populista e dispondo a Administração da mesma forma refém do funcionalismo.

Eram, no caso de Sandoval, iIegais porque concedidos dentro do período proibido pela lei eleitoral e imorais porque contrastavam com a situação financeira do Estado. E que se diga: reajustes transformados em lei pelos deputados estaduais sem qualquer apresentação de estudos de impacto econômico que demonstrassem a origem da receita para a despesa extraordinária de caráter continuado.

O Tribunal Superior Eleitoral condenou ontem Sandoval por abuso de poder político. E fundamenta sua decisão nos mesmos reajustes ilegais apontados neste blog em 2014: 416,31%, muito acima da recomposição de perdas salariais. Sandoval está, agora, inelegível por oito anos, a partir de 2014. Ou seja, se depender dessa decisão, estará limpinho nas eleições de 2022. Mas o fardo financeiro que impôs aos cofres públicos continua nas costas do contribuinte e no bolso dos servidores.

Os funcionários não tem culpa. Qualquer cidadão reivindica o melhor para si e expõe suas armas e contrapartidas. Evidente que poder-se-ia raciocinar que não adiantaria governos concederem reajustes sem que tenham condições de cumpri-los. Ou mesmo sobre a atividade fim do governo e de suas funções ou que percebem um dos maiores salários do país para o quarto menor PIB e mais pobre da federação. Mas aí já seria pedir demais.

A maioria desses reajustes foi mantida (alguns legalizados por Marcelo) e que somados aos reajuste ilegais de Carlos Gaguim e dos governos anteriores de Marcelo Miranda (mantidos por Carlesse como ontem na lei que concede gratificação/indenização de produtividade a servidores administrativos)  dão pistas dos motivos pelos quais o governo (todos os poderes) deverão fechar o ano gastando na faixa dos 75% da receita corrente líquida com salários (contra o máximo de 60%). E apenas o Executivo (se considerarmos a despesa bruta de salários e não a líquida) superando os 80% das receitas com funcionários.

De outro modo: sobrariam, este ano, de uma RCL de R$ 7,2 bilhões - que o governo publicou no balanço do quinto bimestre estar em apenas R$ 7,056 bilhões ( para orçamento de R$ 10,7 bilhões), o equivalente a R$ 1,4 bilhão para comprar remédios, fazer estradas, escolas, hospitais (e seu equipamento), recuperar rodovias, pagar UTIs, alimentação, limpeza de hospitais, manutenção veículos da polícia, pagar fornecedores e prestadores de serviço, aumentar leitos, pagar serviços hospitalares terceirizados, contas de água, energia, telefone, internet e o cafezinho do Palácio Araguaia.

E os salários abocanhariam a bagatela de R$ 5,760 bilhões. Acima do orçamento de R$ 5,5 bilhões previstos para 2018.

É a situação deste Estado. De calamidade. E que não será atingida pela decisão de ontem do TSE, dado o que eles denominam de segurança jurídica. Ou seja, os servidores não terão que devolver a grana concedida de forma ilegal. Nem ficarão sem os reajustes que permaneceram de pé.

Deixe seu comentário:

Ponto Cartesiano

Caiu como uma bomba no governo estudo realizado pela Firjan (divulgado pelo Metropoles no domingo) de que apenas quatro dos 27 Estados fechariam 2024 no azul. Ou seja, sem d&e...

Recheados de símbolos e intenções transversais os discursos do senador Eduardo Gomes e do governador Wanderlei Barbosa no sábado, a tomar as dec...

A jornalista e pré-candidata a prefeita, Roberta Tum (PCdoB) fez ontem uma resenha dos últimos dias. Assino embaixo. Só faço uma anota&cced...