O ex-prefeito Carlos Amastha saiu das urnas em 2018 maior do que entrou: conseguiu - na primeira eleição estadual que disputou e enfrentando certa carga de xenofobia e problemas convenientes na línguagem - amealhar 31,19% dos votos válidos na disputa com Mauro Carlesse. Um ativo e tanto.

Menos de três anos depois, paradoxalmente, busca uma vaga numa chapa qualquer para disputar um cargo eletivo. Derretendo musculatura política à luz do dia. Não se pode acusá-lo de incoerência ou inexistência de lógica nos movimentos táticos. O problema é que não é a razão a prostituta do diabo.

Ora, apontar o dedo para Cínthia Ribeiro por pagar promoções e progressões e disseminar irregularidade no uso de recursos do Fundeb para fazê-lo, como expressou ontem nas redes sociais, o ex-prefeito comete equívocos extraordinários quando não sujeitos a tipos penais.

Primeiro, numérico. Na execução orçamentária da prefeitura é possível notar que o Executivo teve R$ 279,6 milhões de recursos do Fundeb na Educação e foram aplicados R$ 279,7 milhões.

O segundo é de outra ordem: legal. A aplicação de recursos do Fundeb nos salários da Educação é expediente permitido pela legislação, como o fazem as prefeituras e governos.

Agora, atenção: o pagamento de promoções e progressões autorizado por Cínthia não tem recursos do Fundeb (até porque não existiriam sobras como você vê aí atrás) mas recursos próprios (fonte 0100).

Do ponto de vista político, a inconsistência e incoerência de Carlos Amastha é maior ainda. Estes mesmos servidores que hoje recebem suas progressões e promoções fizeram uma greve na administração de Amastha (2017) pelo não cumprimento do acordo para acerto dos benefícios só agora pagos por Cínthia.

Lá em 2017, Amastha argumentava a crise econômica quando a receita corrente líquida do município havia registrado crescimento de R$ 158 milhões (20,9%) em três anos (2015/2017). E os gastos com pessoal apenas 14,6% (R$ 65 milhões). Mais receitas e menos pagamento.

Com Cínthia (2018/2020), houve paridade nos gastos que, entende-se, pelo pagamento dos passivos deixados pelo ex-prefeito. As receitas aumentaram R$ 315 milhões (33,7%) e os gastos com pessoal (R$ 172 milhões), um avanço também de 33,7% no período.

É, afinal, público o pagamento das despesas de exercícios anteriores (deixadas por Carlos Amastha) da ordem de R$ 142 milhões e a quitação de dívidas totais de R$ 255 milhões de 2018 a 2021. Estão lá na execução orçamentária.

Se Carlos Amastha passa por cima disso aí, deve esperar que em 2022 o eleitor passe batido na Operação Nosostro, na Operação Jogo Limpo, no seu indiciamento pela PF por associação criminosa (conseguiu desvencilhar-se da acusação), do escândalo do BRT, das aplicações irregulares do Previpalmas (R$ 50 milhões), do escândalo do Fundesporte e por aí vai. E que se note: não é condenado a nada, está elegível, mas politicamente é outra história.

Uma narrativa de que não padece a prefeita Cínthia Ribeiro que, alías, em 2022, até agora, não prevê disputar qualquer cargo que pudesse ameaçar o ex-prefeito, no que só realça a tática equivocada de Carlos Amastha contra uma prefeita "limpinha", sem PF na sua cola, com o apoio da maioria absoluta dos vereadores e administrando de forma transparente as contas municipais, como registram os órgãos de fiscalização, não só regionais.

E mais interessante ainda: não pode disputar uma nova reeleição na cidade. Ou seja, até nisso, Amastha erra o alvo, levando o político para o pessoal. Tudo normal, não fosse os cargos de natureza pública, portanto, impessoais no exercício.

Faria bem Amastha revisitar (se já o conhece) ou visitar o provérbio latino: Os deuses primeiro tiram a razão daqueles a quem querem destruir.

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