Há, nestes dias, há uma denúncia (no MPE) de abuso sexual e moral no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado do Tocantins. Nada de novo. Há muito correm bastidores disso. Tanto no CB como na PM.  Garotões sarados (ou velhos pernósticos ou pederastas) e com poder da farda exercendo poderes que não possuem em cargos que não estão preparados, psicológica e culturalmente para exercê-los. São eloquente minoria nas corporações, mas estão aí. O predador e sua presa, o macho-alfa, o proprietário do corpo e mente da outra. Ou do outro. Violações consentidas e não consentidas pelo medo.

Ainda que fosse o principal, o caso começou pelo acessório: uma associação de mulheres policiais procurou o MPE para denunciar, na verdade (como se divulga), omissão do Comando Geral dos Bombeiros na apuração das supostas denúncias que a entidade diz ser de assédio moral e sexual. Essas coisas, as mulheres e os homens bem o sabem, não se inventa assim. Sem mais nem menos. As provas, na maioria das vezes, são solitárias quando não fincadas apenas na alma e no corpo da vítima.

E o que ocorre: o Comando do Corpo de Bombeiros diz que não é com ele e que o fato diria respeito a uma ação pessoal e que a instituição não iria se manifestar sobre o caso, como vai pendurado nas páginas do Jornal do Tocantins desta quinta.

Mais: o comandante do CB abriu processo contra a presidente da entidade e a Corregedoria da Polícia Civil instaurou sindicância. Para apurar as denúncias? Não!! Para apurar crime de calúnia que teria sido imputado pelo Comandante à presidente da Associação das Mulheres Policiais do Tocantins!!!! Que não o denunciou pelos abusos, teria apontado apenas a omissão em investigá-los.

Como se nota, CB e a Corregedoria da PM seguem o script invertido: ao invés de apurar as denúncias, apontam o dedo para a vítima. O expediente além de impedir a apuração (condenação ou absolvição dos supostos acusados) elimina a denúncia e faz da denunciante, a partir daí, uma vítima em dobro: será tratada como criminosa (calúnia, injúria e difamação) e com uma pária sob o comando de seus algozes até o final de suas carreiras militares. E isto quando não com problemas familiares, especialmente as militares casadas ou que tem um companheiro. Tudo isso aí sem o escrutínio do poder Judiciário.

Não se está aqui a apontar criminosos. Mas a realçar que o simples fato de haver uma denúncia (anônima ou formal) já seria motivo suficiente para tanto o Corpo de Bombeiros como a Corregedoria da PM apurar, a priori e de forma antecedente, não o crime de calúnia, mas a denúncia de abuso sexual e moral. Até porque a calúnia/injuria/difamação só existiria não confirmadas as denúncias e não antes.

PS: pesquisa do IBGE nas corporações militares registra que 40% das entrevistadas disseram já ter sofrido assédio moral e sexual dentro da PM. A maior parte quem assedia é o superior hierárquico. A pesquisa mostrou também que no Brasil apenas 11,% das mulheres militares denunciam que sofreram o abuso.

O caso do médico João de Deus está aí. Milhares casos João de Deus ocorrem todos os dias no país. Nos escritórios, nos consultórios, nas ruas e nos quartéis. Mulheres demoraram (como no caso João de Deus) dezenas de anos para encorajarem-se a denunciá-lo.

Nos quartéis, pior ainda porque é à polícia que deve se recorrer em casos assim. E ali rege o princípio da hierarquia e da ordem. A maioria o segue na íntegra. São os corretos. Outros não passam de bandidos comuns, como se sabe todos os dias, e subvertem a lógica da ordem dentro de uma farda e com uma ponto 40 na cintura.

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