O governo decidiu abrir no primeiro semestre de 2021 vestibular para ingresso no curso de Medicina que prometeu ser implantado pela Universidade Estadual do Tocantins em Augustinópolis. Tem o aval da comunidade e dos deputados que fizeram um  mutirão de emendas parlamentares para sua viabilização. 

De outro modo: sob observação dos diretamente interessados, uma decisão acertada no que expande um desafio, afinal se dependesse por exemplo do presidente da República e dos políticos (e jornalistas) do Sul do país, o Tocantins não seria criado, não se teria a Ferrovia Norte-Sul nem a Belém-Brasília. Sequer mesmo Brasília que concorria com as praias e águas da baía de Guanabara. 

Mas nem sempre a vontade popular é a mais adequada. Exemplo: se o poder público conceder à população a prerrogativa (e não obrigação) de pagar impostos, a maioria certamente optará por não pagar.

O novo curso de medicina no Bico do Papagaio provoca  uma discussão óbvia: o Ministério da Educação suspendeu por cinco anos em 2018 novos cursos de medicina no país. Tanto por parte do governo federal, estaduais e municipais. Está valendo até 2023. 

Razões governamentais e dos conselhos médicos: com 342 escolas médicas e a oferta de 35.622 novas vagas anualmente, o Brasil tem hoje uma média de 10,4 recém-formados em medicina para cada grupo de 100 mil habitantes.  São mais de 500 mil médicos no país.

O índice (conforme o Conselho Federal de Medicina) é superior aos índices da França (9,5), Chile (8,82), Estados Unidos (7,76), Canadá (7,7), Coreia do Sul (7,58), Japão (6,94) e Israel (6,9) por exemplo.

No Tocantins,  contrariamente à portaria do MEC,  já anda em curso a implantação de outros dois cursos de medicina no Estado: um em Paraíso (Unirgr) e outro em Araguaína (UFTo). Este a menos de 200 km do curso anunciado em Augustinópolis. Já existem oficialmente cinco cursos de medicina. São dois em Araguaína (ITPAC/UFTo), um em Palmas (UFTo), outro em Gurupi (Unirg) e mais um em Porto Nacional (ITPAC).

A população precisa de médicos, óbvio. mas também da qualidade do ensino que vai além da preocupação sobre demanda. E no Estado a situação não é favorável se consideradas as notas do Enade (do MEC) do ano passado. 

As notas dos curso de medicina não indicam qualidade satisfatória. Para uma nota máxia de 5 (MEC), o curso da Unirg obteve nota 2, ITPAC/Araguaína (3), ITPAC/Porto Nacional (1) e a UFTo/Palmas a melhor, com nota 4.

No Norte (dados do Conselho Federal de Medicina), que tem uma taxa 43% menor do que a média nacional, a maior proporção de médicos já é encontrada no Tocantins, com média de 2,01. A menor aparece no Pará (1,07). 

Estes são campo e território das circunstâncias em que se cria mais um curso de medicina na região considerada uma das mais pobres do país. E talvez por causa disso, mas em meio a um índice de analfabetismo de 117 mil  (9,7%) que não sabem ler nem escrever e outros 500  mil jovens (IBGE/Pnad/2019) não conseguiram concluir o ensino médio.

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