A notícia de que o governador Mauro Carlesse deixará o Democratas é movimento esperado há meses. Carlesse, entretanto, se acerta no mérito da decisão, erra na forma que impele deduções de certa passionalidade proveniente de alguma ansiedade na definição da hora.

Um governador anunciar mudança de partido justamente quando o governo necessitaria, em tese, de todas as forças políticas e partidárias para superar uma pandemia que matou 548 pessoas no Estado (já são 2.113 óbitos nesta segunda) em 30 dias, não seria, por óbvio, o mais indicado e prudente.

Mas que tem consonância com as decisões de governo nas UTIs e leitos que, por mais que tentasse, a administração não conseguiria demonstrar uma variante ou cálculo lógico na sua distribuição nos hospitais do Estado que não tenha alguma correspondência de natureza político-partidária.

Os prefeitos, agora, oscilarão no novo curso que pode indicar o governador. Se não o fizerem, problemas. Isto não é porque é Carlesse. É porque é governo. Prefeitos tendem a seguir o governador argumentando recursos para seus municípios. E nessa situação, quem não vai, vai para outro lugar. Não por isto nem por causa disso, o Covid-19 não pára seu curso e percurso.

Ao deixar o Democratas, por outro lado, Mauro Carlesse livra-se do malogro que lhe foi imposto pelo deputado federal Carlos Gaguim que garantiu-lhe a presidência do partido no Estado, levando um sonoro Não da direção nacional. Carlesse saindo, implicararia, pela lógica, também na saída de Carlos Gaguim. Ou seja, Carlesse livra-se do malogro mas segue com o ogro.

O governador não ganhou o partido e ainda engoliu o fortalecimento de Dorinha, a vencedora na disputa provocada por Gaguim, sobrando apenas para o Chefe do Executivo, fragilizado, do ponto de vista político e partidário, na legenda logo na entrada.

Não fora a afoiteza e prepotência do parlamentar, com efeito, Mauro Carlesse ainda estaria no Democratas e com o apoio da direção nacional, dado que Dorinha não tem, até aqui, manifestado disposição para disputar governo ou Senado.

E, de quebra, é possível que tivesse ao lado também a prefeita Cínthia Ribeiro e o senador Eduardo Gomes (que formam um triunvirato com Dorinha). Pelo menos até abril do próximo ano quando os prazos eleitorais reduziriam as perdas de um racha que hoje, a ano meio das eleições, parece evoluir.

Eduardo Gomes e Mauro Carlesse (governo e Senado) é uma chapa quase imbatível. Não por deficiência, por exemplo, de Wanderlei Barbosa, considerado um grande articulador político, mas por maior musculatura política de Gomes e Carlesse.

O primeiro nos diversos mandatos de deputado federal e agora senador, líder do presidente da República no Congresso. E que fora cotado para assumir a presidência do Senado (e do Congresso). Não é pouca representação. E Carlesse por força do bom governo que desenvolve.

Detentores de cargos majoritários, como é notório, não perdem mandatos por mudar de partido. Pela legislação eleitoral, entretanto, ele poderia ficar no Democratas até abril de 2022.

O arranjo agora sinaliza, em grau maior, que Carlesse (ao contrário da declaração dúbia que concedeu à jornalista Roberta Tum em dezembro último) já decidiu deixar o governo e apoiar o vice Wanderlei Barbosa à reeleição.

Resolvido partidariamente, teria um ano para formar um blocão em favlor do seu candidato, tentando superar com isto, o ativo de Eduardo Gomes. Tudo em favor da aliança que o levou a duas eleições consecutivas a governo. E em cuja gênese está justamente Wanderlei Barbosa. A projetar novos aliados que não conheceria mais a fundo.

Sua saída do Democratas implica também em aumentar o distanciamento de Dorinha Seabra, presidente regional do partido e em alta após o relatório do Fundeb. E, logicamente, de Eduardo Gomes em função do que a decisão de Carlesse favorece a Wanderlei Barbosa.

Um vice-governador que já teria em mãos pareceres jurídicos indicando que pode candidatar-se à reeleição no governo, mesmo vindo de uma reeleição no cargo de vice. Estudo que certamente não faria tão às claras não tivesse a certeza do apoio de Carlesse. Caso contrário, o racha do Governador não seria com o Democratas e sim com o seu vice.

Isto aí é um pouco de lógica. Isto porque interlocutores do governador avaliam Mauro Carlesse como frio e calculista do ponto de vista político. Ou seja, não é muito de ligar para acordos ou mimimi de aliados. Nesta variante pode até, mesmo diante desse organograma, jogar tudo pro alto e dar uma banana ao seu vice.

Deixe seu comentário:

Ponto Cartesiano

Lembram-se daquele projeto de Zero Papel descrito aqui no blog há duas semanas como meta do governo com a utilização, pela Secretaria da Fazenda, do sistema Sf...

Os números são impressionantes. O contrato 040 (2024) – assinado em 25 de março e já empenhado – da Prefeitura de Peixe se compromissando a...

O Ministério Público fez publicar no seu Diário Eletrônico de ontem a Portaria de Instauração – Procedimento Preparatório 144...