Pais e alunos dos colégios da Polícia Militar protestaram ontem (de costas para a sede do governo e de frente para o pavilhão, informa-se) contra a transformação em escolas cívico-militares e a mudança na forma de ingresso. Sai o processo seletivo e entra o sorteio no sistema informatizado. Aliás, como já se opera nas matriculas na rede pública.

Como o leitor já o sabe, tenho opinião contrária a escolas militares. O motivo é simples: o ensino público é financiado (em larga medida) pelo Fundeb (recurso federal/EC 53/2006) cujo princípio é a universalização da educação. Tem regras de aplicação. Recursos públicos não podem ser utilizados de forma discricionária, favorecendo a criação de escolas de nível A ou B. A régua deve ser a mesma para todos os estabelecimentos públicos.

Além disso, num país de regime civil, a educação plural deveria sobrepor-se a estamentos militares. Obrigar crianças a bater continência, praticar ordem-unida diariamente, aprender a marchar e agir como soldado é algo invasivo num país de regime democrático civil e não militar. Ganham em disciplina, mas perdem na capacidade de enxergar e entender o mundo que não é uniforme.

Na manifestação de ontem, como se divulga, os pais e os alunos, é possível deduzir, são contra essa universalização. Tem também como arma, o mérito que o processo seletivo reconheceria. Defendem a manutenção dos colégios militares e combatem as escolas cívico-militares, mais abrangentes.

O dinheiro é o mesmo. A origem dos recursos da Polícia Militar (dos colégios militares) é a mesma da verba aplicada nas escolas cívico-militar e nas demais. Mas querem ser diferenciados contra a universalidade do ensino público e da grana que os financia.

Há uma outra confusão retórica e dialética. O mérito de tais pais e alunos, como se abstrai da manifestação de ontem, considera apenas o ponto de chegada e não o de partida. Como é notório, as cotas sociais do Enem forçaram as classes de renda elevada a remanejarem seus filhos das escolas particulares quando terminam o nível fundamental para as escolas públicas. Este o seu ponto de chegada.

A partir daí, ficam três anos nas escolas públicas mas também fazendo cursinhos preparatórios, driblando as regas das cotas sociais e do Enem.  É a turma que participa dos processos seletivos nas escolas militares consideradas de melhor nível educacional. O aluno fica nove anos, por exemplo, no Olimpo, Interação, Marista e que tais e nos três anos que antecedem o vestibular e o Enem pula para a escola pública para concorrerem com aqueles que não tiveram escolas particulares.

E que, evidentemente, se não tinham nenhuma chance no processo seletivo na escola pública (nos colégios e escolas militares) não o terão no exame vestibular. Por conta do seu ponto de partida que o sorteio no sistema informatizado cuidaria de minorar consequências inequívocas.

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Ponto Cartesiano

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