Sempre haverá referências a criador e criatura. Um espectro tão inevitável como inexorável. E, também pela lógica, perfeitamente administrável. Mas a prefeita Cínthia Ribeiro tem a faca e queijo nas mãos. Não só para um projeto de reeleição, mas a inclinações futuras.
As circunstâncias e o modo com que se movimenta concorrem a seu favor. Do ponto de vista partidário quanto administrativo, com implicações diretas no seu ativo eleitoral.
Cínthia mantém na Prefeitura a mesma aceleração com que a impulsionava Carlos Amastha. Como é possível constatar nos relatórios de gestão fiscal, esse impulso de Amastha ocasionou consequências orçamentárias.
Diferenciam-nos, entretanto, o modo. Do ponto de vista político, Cínthia busca convergências com ponderações; Amastha, a seu modo, o fazia com exploração política de divergências. Soma positiva de um e negativa no outro.
Partidariamente, só o fato de que existiriam conversas para filiação da prefeita ao PP, da base do Palácio Araguaia e possível destino especulado para o governador Mauro Carlesse, já dividiria estratégia (e dividendos) de adversários na própria base palaciana na sua sucessão daqui a dois anos.
Ganho à prefeita posto representar, já na simples especulação, ativo agregado contra a derivativa perda de poder político concorrente. Da mesma forma que leva às cordas o PSDB, forçando-o à discussão subsequente e necessária, do ponto de vista político, sobre liderança partidária.
É neste contexto que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou uma carta de fiança (uma abertura de crédito) a Cínthia para tomar emprestado até R$ 240 milhões. A prefeitura (com as decisões da Justiça) está limpinha para endividar-se. Ou: pode tocar obras com empréstimos. Enquanto o governo está travado por falta de capacidade de pagamento.
Hoje a Prefeitura tem uma dívida contratual de R$ 9,6 milhões. Pelas resoluções do Senado pode gastar até R$ 153,7 milhões por ano com empréstimos (16%). Ou: pode ter uma dívida total de R$ 1,1 bilhões, o que equivale (pela resolução do Senado) a 1,2 vezes a Receita Corrente Líquida. No 2º quadrimestre de 2018 a RCL era R$ 961 milhões. De outro modo: contabilizando os R$ 42 milhões de dívida previdenciária negociada e a dívida de empréstimos, pode tomar emprestado mais um bilhão de reais.
Com o seu jeito e essa montanha de dinheiro, reeleição é só questão de não pisar na bola.