O anacronismo político, religioso e ideológico é um espanto. Pelo menos dois recortes da posse dos vereadores e da prefeita de Palmas ontem bem o explicitam. Ou demonstram. Ainda que se respeite os pensamentos diversos na sua pluralidade.

Primeiro: não há qualquer explicação razoável e institucional para a mesa diretora da Câmara estabelecer como trilha de uma solenidade oficial e constitucional cânticos religiosos. Se é assim, sugiro uma dobradinha evangélica com uma ave maria mãe de Deus, uma santa Maria ou um salve-rainha. E por que  não um cântico de Exu?

Hinos evangélicos concorrendo com o Hino Nacional. É como se a Câmara e a cidade fossem evangélicos e não de todos os moradores da Capital, contribuintes ou não, mas plurais na religião como, afinal, lhes concede dispor a Constituição de um estado laico.

Tudo isto sem pedir qualquer permissão que não às suas vontades eleitas. Com a mesma licenciosidade com que representantes do setor, não sem efeito, combatem no mesmo  Legislativo as minorias que não se enquadram nas suas profissões de fé.

Outro recorte: a profusão nas redes sociais (e na própria Câmara) do que seria um avanço a eleição de Janad Valcari como presidente do Legislativo e que isto fosse a valorização da mulher dado que seria a segunda vereadora a presidir a Câmara. O número de vereadoras eleitas também seria um avanço, a mulher conquistando mais espaços e que tais.

Assim considerado, Maria da Balsa, a primeira vereadora eleita presidente da Câmara seria,claro, uma heroína. E o que dizer das outras três vereadoras eleitas da legislatura de Maria da Balsa: Mariza Sales, Cirlene Pugliese, Zilneide Avelino!!! Isto considerado, de 96 a 2021, as mulheres teriam estacionado durante 25 anos já que apenas quatro foram eleitas no ano passado contra o mesmo número de vereadoras eleitas na legislatura de Dona Maria da Balsa.

Na verdade, lá, Maria da Balsa foi eleita presidente porque sete dos onze vereadores daquela legislatura eram siqueiristas (PPB/PFL/PTB) e Siqueira ainda mandava no Legislativo municipal. Ela sucedeu Amarildo Martins (outro siqueirista). O prefeito eleito era do PPB, Odir Rocha.

Dona Maria saiu direto do porto da balsa para a Câmara, com os parcos níveis de escolaridade que detinha e, certamente, menos resistente a manipulações do Palácio Araguaia. Dona Maria caiu em desgraça tempos depois acusada de ações atípicas.

Janad foi eleita por 12 votos contra sete do seu concorrente, o vereador Rogério Freitas. Não bastasse a Câmara ter 12 novos vereadores (potenciamente eleitores de semelhantes) e apenas sete terem sido reeleitos, a vereadora do Podemos, além de advogada, não carrega nas costas o fardo policial de Rogério.

Ou seja, o raciocínio do avanço da mulher por ser  mulher negaria a competência política da nova presidente para fazer negociações e formar uma base. Facilmente comprovada de forma antecedente no êxito na primeira eleição que disputou.

Tudo seguindo uma lógica política racional. E não uma tábua de protecionismo ou de questões sociais de gênero.

 

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