"Nunca me gabei disso", confessa ao blog o ex-deputado Brito Miranda confrontado com o fato de que, não fora ele, a criação do Estado do Tocantins não seria incluída na Constituição de 88. Natural de Pedro Afonso, Brito estudou em Porto e foi cedo para Goiás (como fazia a maioria dos jovens do Norte), onde trabalhou nos governos de José Feliciano, Mauro Borges, Henrique Santillo e Iris Rezende, como titular de cargos e líder político no Executivo e Legislativo goianos.

Brito, então líder do governo Henrique Santillo (PMDB) na Assembléia Legislativa de Goiás, foi o responsável pelo convencimento de 41 deputados (unanimidade) pelo consentimento à divisão do Estado. Uma exigência do presidente da Comissão, então senador José Richa, para inclui-lo no projeto.

Brito explica que Richa, na verdade, queria justificar a não inclusão da divisão dos Estados do Maranhão, Pará e especialmente de Minas Gerais (criação do Estado do Triângulo), todos querendo separação. A resistência mais forte era em Minas (Triângulo) e Pará (Carajás).

"O Estado do Triângulo seria o que viria a ser o celeiro da indústria mineira e do país. Minas toda era contra, as bancadas não aprovavam", diz Brito. "O Richa então impôs a dificuldade a todos que queriam divisão, obrigando a necessidade de unanimidade, quase impossível numa questão que envolvia divisão de território e sentimento". Isto, resume Brito Miranda, justifica o fato de apenas o Estado do Tocantins ter sido criado pela Constituinte, salientando que Amapá e Roraima já eram territórios.

"Santillo me disse: Miranda, você é jeitoso, dá um jeito nisso". O então governador de Goiás tinha receio de entrar na cooptação de apoios dos deputados a uma causa que ele próprio defendia, porque tinha, segundo ele, sido eleito para governar a "inteireza do Estado" e não parte dele, diz Brito. "Foi uma façanha muito grande, a criação do Estado tinha oposição das oligarquias goianas, representadas nos Caiado e nos Ludovico, pelo ex-governador e então deputado federal Mauro Borges".

O ex-deputado federal e ex-vice governador, Darci Coelho, vai mais além: a criação do Estado foi a convergência de interesses da sociedade política e sociedade popular. Ele – que foi o presidente da Comitê Pró-Criação do Estado que recolheu as 72 mil assinaturas que embasaram a emenda popular – disse a este blog que a junção das emendas (de Siqueira Campos com a do Comitê) foi o expediente fundamental para a tramitação e aprovação pelo Congresso.

Juiz federal aposentado, Darci Coelho foi o encarregado de entregar ao então deputado e presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, o projeto de emenda popular. Ele diz que foi uma luta difícil. "O Sarney (ex-presidente) já havia vetado por duas vezes a criação do Tocantins, mesmo depois de aprovado pelo Congresso". Mais tarde, Sarney tentaria descolar uma candidatura ao Senado pelo Tocantins que vetara. Darci explica que o Norte de Goiás, por exemplo, tinha a mesma representação política das cidades goianas de Anápolis ou Inhumas: quatro deputados estaduais e dois federais.

Segundo Darci, as assinaturas valeram como a idéia para que a emenda parlamentar de Siqueira Campos ganhassem maior representatividade. "O Ulysses (Guimarães, então presidente da Câmara) quando entregamos o projeto de emenda popular chegou a dizer que não precisaria de plebiscito porque as assinaturas em apoio à criação já eram suficientes", adianta.

O resultado é que o Estado do Tocantins foi criado no artigo 13 das Disposições Transitórias da Constituinte de 1.988. O projeto teve a aprovação da maioria parlamentar. Encerrada a Votação 718, no dia 29 de junho de 1.988, o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, proclamava o resultado: 367 deputados aprovavam a fusão das emendas e a criação do Tocantins. Apenas um parlamentar votou contra (Ademir Andrade) e houve 11 abstenções. Dentre as abstenções, destaque para o deputado Luis Eduardo que, anos depois, nominaria a maior hidrelétrica do Estado, a de Lajeado. Por decisão de Siqueira Campos.

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