Em certo sentido, os 36 anos de criação de Palmas nesta terça, impõem, do ponto de vista político, uma proposição aparentemente demonstrada. Ou de premissas facilmente demonstráveis.
O prefeito da cidade e o governador do Estado são representantes eloquentes do grupo político que a implantou e abriu as primeiras ruas. Uma escolha popular do eleitor. Até o desfile do aniversário, como no início da Capital, será na avenida Tocantins, em Taquaralto.
A direita dos primeiros dias (Fenelon Barbosa/prefeito e Siqueira Campos/governador, ambos do PDC/sucedâneo da Arena) ocupa hoje os dois maiores cargos políticos eletivos da Capital e do Estado: Eduardo Siqueira e Wanderlei Barbosa.
Dos sete prefeitos da cidade, sete tem origem na direita. Um deles, fez-se de esquerda por um período e retomou o eixo político após o mandato. Um pefelê de alma e coração.
Os bolsões de miséria na cidade, três décadas e meia depois, só foram afastados circunstancialmente do Plano Diretor. Mas seguem o perfil do Golfo Pérsico que a Capadócia está aí a gritar. Há avanços? Claro que há. Mas não correspondentes aos orçamentos e prioridades.
Apesar do PIB per capita de R$ 32,9 mil anuais, 44 mil famílias recebem a Bolsa do Governo Federal (algo próximo de 180 mil pessoas). Ou: 60% das famílias tem renda média de R$ 683,00 do governo.
Daí fazer certo sentido as celebrações de pertencimento de parte da população, especialmente os primeiros moradores, hoje minoria. E que continuam, do ponto de vista financeiro e social, no mesmo lugar.
Com efeito, não se vê as “Ferraris e Mercedes” cantarem o melancólico “Te amo Palmas” com o mesmo ardor de paixão incomensurável e incondicional.
"Te amo Palmas" que no início da cidade (no começo da década de 90),era apenas uma peça de campanha publicitária do Hotel Pousada dos Girassóis veiculada na tv.
Mas continuamos bons em marketing, como as intervenções da imprensa nacional no início da cidade que tratavam-na como o novo Eldorado tendo como referencial o comércio de piscinas. Tangenciando os barracos de lona preta da Vila União.
Os pioneiros (e piotários) se agarram – como a Força Expedicionária Brasileira e seu Monte Castelo - na história de desbravamento quase quatro décadas depois. Viés que a classe política não desejaria melhor cobertor. Como Getúlio a encobrir com os pracinhas seu apoio ao Eixo do mal.
A cidade está linda. Foi projetada para 500 mil pessoas em dez anos. Decorridos 36, abriga 300 mil.Não é pouco. Num espaço que caberia uma Belo Horizonte, o déficit habitacional, sem teto e sem lotes, no entanto, é espantoso.
Paralelo a isto, entretanto, tem um orçamento de R$ 2,7 bilhões e uma incidência de pobreza na faixa de 29,52%.
Uma contradição de uma cidade criada para dar oportunidade a todos.
No próximo, nos seus 37, estaremos novamente gritando: Palmas,sua linda!
E cantando: Eu ia! Até quando nem pra onde, não se sabe.