Quando no mês de maio apontei a ilegalidade da greve dos caminhoneiros e o erro de avaliação de seus apoiadores que pregavam uma luta contra os preços dos combustíveis que, pela lógica, seriam elevados e não reduzidos, atendida a reivindicação da categoria, só não fui tachado de santo e rapadura pelos brucutus das redes sociais.

Ontem, a mesma horda aportou aqui na defesa de um policial flagrado em Porto Nacional, em pleno meio dia e na frente de dezenas de pessoas, agredindo um caminhoneiro desarmado. Se esboçasse qualquer reação, certamente o policial teria tirado a Ponto 40 da cintura para se defender de "injusta agressão". Eram três policiais contra um cidadão.

E qual é o argumento dos brucutus: os caminhoneiros também desrespeitariam os outros motoristas nas rodovias. Conclusão: mereceriam portanto serem tratados como o teria sido o caminhoneiro ontem no Posto Trevo em Porto. De outro modo: um crime justificaria outro e todos então estariam construindo um mundo melhor. Ou pior. Um sofisma por representar uma estrutura de raciocínio deliberadamente enganosa.

Primeiro porque não são todos os caminhoneiros (como os policiais) que desrespeitam a lei e matam nas cidades e rodovias. E, não menos relevante, policiais são pagos pelo contribuinte para aplicar a lei, dando segurança à população.E não aplicando-lhe tabefes em praça pública, estabelecendo suas próprias leis corretivas contra o estado de direito.

Ao contrário dos policiais (que devem apenas cumprir o que a lei manda) o caminhoneiro (que não depende dos cofres públicos) pode fazer tudo que a lei não proíbe. Se descumprir a lei, deve ser punido. Mas até lá, deve ser protegido pelo policial como qualquer outro contribuinte. E não ser vítima dele.

E por último o X da questão: na verdade ao defender policiais contra caminhoneiros desarmados, a turba está a referendar politicamente a onda Bolsonaro, a um dia das eleições. Estariam defendendo um modelo político em que a atitude ilegal e ilegítima do policial militar em Porto Nacional o representasse, como é notório na pregação confrontada com a narrativa eleitoral em curso.

Os caminhoneiros não mudaram em nada de maio até aqui que pudesse transformá-los, à vista dos movimentos sociais, de vítimas a bandidos. Assim como ações truculentas e ilegais não mudaram de conceito. Nem os policiais.

A defesa não é do PM que expressou seus instintos primitivos contra um caminhoneiro. Mas do que sua ação simbolizaria no consciente das pessoas que dela tivessem conhecimento a pouco mais de 24 horas das eleições. Mero movimento de fluxo e refluxo. Na verdade, uma reação carregada, entretanto, do mesmo fundamento lógico que movimentou a ação truculenta do PM contra um "suposto bandido".

Ou seja: a turba, como na greve dos caminhoneiros, continua atolada na ignorância. Parece buscar em todas as atividades do cotidiano das pessoas oportunidade para defender o que pensa e escrachar pensamentos contrários.

Tem o direito de votar em quem quiser (como todos os outros), mas preferem manter-se insanos como se algo os proibisse ou estivesse à espreita para barrar seus projetos e instintos.  E pior que, para o bem de todos (inclusive deles) existe óbice ao seu explícito intento: a civilização.

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