Mauro Carlesse houve por bem seguir os governadores de metade dos Estados da federação (14 chefes de executivos estaduais) e optou por opor-se ao governo federal no decreto das armas. Uma escolha acertada tanto do ponto de vista social quanto legal.
É uma decisão política de enfrentamento necessária mas que requer coragem. O Estado é um dos mais pobres do país e algo próximo de 60% de suas receitas são provenientes de transferências federais. Avaliação acertada de custo benefício.
Na atual conjuntura, o Palácio Araguaia busca no Palácio do Planalto mudar as regras dos avais da União para liberar três empréstimos Caixa e BB, de R$ 729 milhões, única saída, por enquanto, para tocar obras, dados os cortes que tem problemas para proceder.
O governo Carlesse tem equívocos que não são poucos. Mas no decreto das armas, tem razões de sobra para agir como o fez. No Tocantins, o número de homicídios registrou crescimento de 314% de 2006 a 2018 (Atlas da Violência/SSP/T0). Saiu de 229 (2006) para 950 (2018). Destes, cerca de 45% provocados por arma de fogo. E, como é lógico, mais armas em circulação, maior probabilidade de mais mortes.
A classe política, regra geral, dá de ombros para os números. E, creio, tem lá seus motivos porque tudo indica faça parte do problema e não da solução.
Paralelo a esse crescimento de 314% nos homicídios no período, as receitas do Estado foram reajustadas em 166%. Passou de um orçamento de R$ 3,3 bilhões (2006) para os R$ 10,7 bilhões (2018). Mais dinheiro público para se aplicar na segurança.
O PIB do Estado (os ricos) aumentou o equivalente a 272% (R$ 8,6 bi/2006 – R$ 32 bi/2018). A população do Estado, entretanto, só avançou 15%. Saiu de 1,3 milhão (2006) para os atuais 1,5 milhão de habitantes. Mais dinheiro nas mãos de menos pessoas.
Conclusão inevitável: enquanto a economia avançava em índices 18 vezes superiores ao crescimento da população (e, lógico, da demanda por serviços públicos), o orçamento crescendo 10 vezes mais que a curva demográfica, a violência arrebentava a boca do balão com número de homicídios 20 vezes superior ao crescimento do número de habitantes. Proporcionalmente, mais mortes que gente.
Como 55% da população situa-se na pobreza e extrema pobreza (Banco Mundial/2018) – 850 mil pessoas/menos de cinco dólares por dia - e destes, 17,69% (152 mil pessoas) na extrema pobreza, a violência, deduz-se, não é efeito da falta de recursos e de atividade econômica. E sim da miséria crescente que o PIB e o orçamento não tem tratado como meta. Um produto da concentração de renda e da falta de prioridade pública. Os números não deixam margem para dúvida.