O vice-governador Wanderlei Barbosa impulsionando o cidadão pensante a concluir que tivesse vestido a fantasia de carnaval com dias de antecedência.
Vejamos três movimentos desta semana: 1) criticou os adversários por apontarem os equívocos do governo dizendo que a oposição deveria contentar-se com o resultado das eleições; 2) que a hora é de serenidade e não de campanha eleitoral e 3) foi a Porto "garantir" a gratuidade da balsa.
Começo pelo óbvio: Wanderlei Barbosa está em plena campanha eleitoral para prefeito e governo. É o engenheiro de praticamente todas as ações e decisões políticas do Palácio. Tanto administrativas como de cooptação política.
Wanderlei exerceu o seu mandato de deputado-vereador por toda administração de Carlos Amastha. Fazia da tribuna do Legislativo a bancada da Câmara Municipal contra o prefeito, depois do rompimento em 2013, tendo seu candidato em 2016 sido derrotado por Amastha. Cinco anos batendo no prefeito dia sim e outro também.
Nas democracias, oposição é para ser oposição mesmo. É uma decisão do eleitor e não do candidato. Só que na régua do vice-governador ela não seria uma via de mão dupla.
Na verdade, Wanderlei Barbosa tem questões mais relevantes para enfrentar. Fenelon Barbosa, seu pai e ex-prefeito de Palmas que ele parece querer resgatar nos últimos meses para dar valoração e substância à sua candidatura na Capital, pode ser confrontado com o passado.
Fenelon - um político que não registra informação ou condenação por ter desviado recurso público - assumiu o cargo porque aceitou, junto com os vereadores, entregar o município de Taquarussu para Siqueira Campos implantar Palmas. Decisão ratificada pela Assembléia, também controlada por Siqueira. O prefeito de Palmas, de fato, era Siqueira Campos.
Mesmo abrindo mão de uma montanha de dinheiro da prefeitura da Capital (FPM de capitais são mais elevados) Fenelon assistiu de camarote o governo entregar quadras inteiras a grandes empresários na região central da cidade com a fajuta justificativa de dação em pagamento e mandar a população de baixa renda se instalar nos Aurenys e Taquaralto, quase 20 km do centro comercial e administrativo da Capital. Se tinha que pagar e não havia dinheiro, a lógica aponta que entregasse lotes no Aureny a empresários e no centro à população.
Ainda que tivesse relevância aceitar transferir a sede do município para Canela, Fenelon foi mais longe: aceitou entregar a Siqueira e ao Estado um total de 50% dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios. Na verdade, foi "convencido" a isto pelo Palácio e aceitou sem qualquer resistência. Retirando dinheiro dos moradores de Taquarussu e de Palmas. E entregando a Siqueira.
É grana que agora o Ministério Público Estadual quer reaver e entregar à prefeitura na ordem de R$ 350 milhões. Já há uma ação na Justiça, como divulgado na semana passada.
O FPM é uma verba constitucional. O Estado havia sido criado pela mesma Constituição. Seria como se a prefeita Cínthia Ribeiro hoje abrisse mão em favor do Palácio Araguaia de algo em torno de R$ 120 milhões por ano (10% de todo orçamento anual da cidade). A prefeitura recebeu em 2018 o equivalente a R$ 228,2 milhões de FPM.
A Capital só se viu livre dessa expropriação anos mais tarde, já na administração de Eduardo Siqueira que, assim, tinha sua gestão inoculada pelo próprio veneno do governo do pai: só tinha 50% do FPM. O resto tinha que mandar para o Palácio Araguaia. Agora já sob a administração de Moisés Avelino, do MDB.
Fenelon, como ex-prefeito de Taquarussu e de Palmas, tem seu valor histórico numa Câmara Municipal sem qualquer condições de reação. Mas política e administrativamente, excetuando as relações de afeto e de respeito, não foi um bom prefeito. Aliás, não foi, na prática, prefeito de Palmas. E aí a comparação óbvia: na campanha a prefeito, Wanderlei corre o risco de ser escrutinado se também entregaria a prefeitura ao governo de que faria parte e que tem Siqueira Campos e Eduardo Siqueira Campos mais que grandes aliados, inspiradores.
Ou seja: o vice-governador Wandelei Barbosa não é Fenelon Barbosa e não tem obrigação e seria uma leviandade raciocinar que faria como o pai prefeito. Mas precisa de muita serenidade e contenção de instintos. Habilidade política tem demonstrado que possui mas tem hora que pisa na bola comprometendo a execução de seu projeto político.