É cada uma. Divulga-se agora (pelo Palácio Araguaia), não sem empolgação nacional populista, a assinatura de termo de compromisso para instalação de uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) na região metropolitana da Capital.
O fato é relevante. Risível é a narrativa que toma emprestado parte da história do Estado, dando-lhe, agora, o caráter de uma espécie de desbravamento e avanço viabilizado, lógico, pelo governador Mauro Carlesse que tem seus méritos pelo apoio à obra de hoje, mas não pode apropriar-se da história de ontem.
O início da piada é que essa região metropolitana que se fala é o município de Porto Nacional. É uma divulgação tão atravessada como aquela que cometem jornalistas ao registrar acidente na ponte FHC dizendo-na ligar Palmas a Paraíso, um pulo de 60 km sobre Luzimangues e o município de Porto Nacional.
Para não ser acusado de vigarice política e histórica, o governo deveria:
a) Informar que a Base seria sediada em Porto Nacional que, não por acaso ou vontade política de seus moradores (mas por decreto) se encontra localizada na região metropolitana de Palmas. É como se a região metropolitana de Palmas adentrasse o território de Porto, tornando-o uma sesmaria do Palácio que está em Palmas.Amplificando a área do município de Porto como metropolitana de Palmas, jogaria a Base no quintal do Governador. Um ativo político ampliado.
Ainda que Siqueira Campos tenha criado arbitrariamente essa área metropolitana de Palmas (quando administrada por Carlos Amastha) para comandar, ele próprio, os recursos financeiros dos 15 municípios nela incluídos. Para o Sul, vai de Palmas a Ipueiras, imagine, a tal área metropolitana de Palmas. No Norte, até Miranorte.Mas não é culpa de Carlesse, óbvio.
b)Por compromisso com a história do Estado, da FAB e de Porto Nacional, teriam a obrigação, o governo e as autoridades federais envolvidas, de também informar ao distinto público que a cidade de Porto Nacional sediou durante décadas a Base Aérea da FAB. Não era coisa nova, a Base. Seria, agora, no máximo, uma reativação com melhores condições físicas e tecnológicas.
c)Informar que os fabianos (militares da FAB), que tinham seu próprio conjunto habitacional nos arredores do aeroporto (construído pela FAB) formaram famílias em Porto Nacional. Aposentaram-se ali.
d)A Base Aérea da FAB era (como ainda é) fundamental para a região amazônica. Especialmente naquela época em que não havia o Sivam.
e)A Base Aérea da FAB em Porto Nacional sucede o pioneirismo de Lysias Rodrigues na Operação do Correio Aéreo Nacional. E resulta do esforço do brigadeiro Eduardo Gomes, na segunda metade do século passado, que via na cidade o ponto estratégico e logístico militar (de segurança nacional numa época em que a URSS, China e Cuba tentavam expandir seus impérios comunistas, num vazio demográfico, sem controle e ações do governo, de extensão territorial quase continental)que hoje Carlesse quer revelar.
f)A Base Aérea da FAB de Porto Nacional dava suporte às companhias aéreas Varig, Cruzeiro, Vasp, Aerolíneas e da própria FAB em suas rotas para o Norte/Nordeste do país. Vôos diários aproveitavam-se do posto de combustível e dos rádio-transmissores da Base Aérea da FAB. Caso contrário fariam vôo cego. E sem querosene de aviação. Era ali que abasteciam seus Avro, como esse aí de cima, que faziam vôos comerciais e ali tinham escala mais técnica que para atender passageiros.
g)A Base Aérea da FAB juntamente com a base do Exército na cidade deu suporte aos militares na guerrilha do Araguaia.
Mas os auxiliares do governador Mauro Carlesse fizeram-no proferir um discurso em que dizia estar o Tocantins entrando numa nova era. Com aplausos dos historiadores do Estado. Daqui a pouco vão dizer que isso já é coisa do Capitão Jair Bolsonaro no exercício da Presidência da República. E não duvide que ele venha e faça também uso dessa história.
