Muitos estão a tratar como histórica a posse do ex-governador Siqueira Campos no Senado amanhã. E é sob determinado ponto de vista.  Volta ao Congresso onde passou por cinco mandatos de deputado federal (e quatro de governador) filiado a partidos conservadores de apoio aos militares.

Foi contra a Diretas Já, defendeu Paulo Maluf contra Tancredo Neves e deu à UHE de Lajeado o nome do filho do maior expoente do coronelismo da história do país: ACM. Denominou a ponte em Palmas de FHC (foi da Arena ao PSDB) e impôs na praça dos Girassóis um monumento ao tenentismo (de seu homônimo Siqueira Campos) e um memorial a Luis Carlos Prestes (comunista) de que se diz foi estafeta.

Ambos com objetivos desconectados com as regras democráticas. A história do tenentismo para derrubar governos e implantar ditaduras de direita é conhecida. Assim como os objetivos de Prestes de implantar uma ditadura de esquerda no país. Siqueira, portanto, não estaria tão deslocado assim.

Ou seja, perambulou por ideologias de forma desconexas do ponto de vista político e da práxis, mas conexas ao seu projeto pessoal de poder. Não se pode negar-lhe o êxito que lhe proporcionou a democracia ainda que tenha ajudado os militares da ditadura a fazer justamente o contrário: obstruir-lhe.

Mandatos concedidos pela população do Estado. Uma gratidão de nove mandatos nas urnas, quase quatro décadas de confiança para ter em troca, dentre outras coisas, esse sistema público de saúde e esse déficit monumental nas contas públicas.

O problema da posse de Siqueira sem qualquer outra fundamentação aparente que não a idade ou suposta gratidão infinita (não há informação de licença para saúde ou coisa que o valha do titular), é que ela expõe uma espécie de arranjo. Pior: mal feito.

Siqueira Campos assume amanhã, terça, o lugar de Eduardo Gomes praticamente dois dias antes de início do recesso branco no parlamento, previsto para começar na quinta-feira, 18, e ir até 31 de julho. Siqueira faz aniversário dia 1º de agosto. Ou seja: vai virar um fantasma nas esteiras do Senado. E fazer fotografias para seus seguidores. O siqueirismo é ainda quase uma religião.

Senado, nas regras democráticas e do estado de direito, não é uma instituição para ser objeto de cambiagem. Nem mesmo pelo melhor dos altruísmos. Ainda que se tenha como fato normal, ele não o é.

É razoável supor, lógico, que Eduardo Gomes talvez não fosse eleito não fora os votos que lhe foram dados pelo suplente (Siqueira) que entregou-lhe a cabeça da chapa. Siqueira empossado, quitaria parte dessa dívida. Ações recorrentes mas absurdamente ilegítimas.

Siqueira merece? Merece. Mas certamente sua história seria melhor acrescentada se assumisse uma vaga no Senado escolhido pelo eleitor. Oportunidade teve aos montes. Mas foi tolhido pelo projeto do seu herdeiro presuntivo. Janela que agora lhe abre, como cedendo gratidão ao criador, uma de suas criaturas.

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