O número de velhos e neo-siqueiristas que aportaram no Congresso para a posse do suplente de senador Siqueira Campos (e suas publicações nas redes sociais) superou (e em muito) a repercussão da posse do titular. E olha que por ali já passaram senadores com mais tempo de luta pela criação do Estado do que Siqueira como João Rocha e Antônio Luiz Maya. Eleitos titulares.
E na Câmara dos Deputados, Francisco Ayres, José Freire e Darci Coelho (presidente do Comitê de Criação do Estado) que entregou o projeto com cerca cem mil assinaturas ao presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, que discursou ao recebê-lo dizendo que as cem mil assinaturas evitaria que o Estado fosse um projeto particular de um político. Está nos anais da Câmara. Siqueira operou o contrário.
Mas os siqueiristas seguem sua narrativa própria como se o Estado (poder público) fosse objeto a sustentar gratidões pessoais eletivas e afetivas. Siqueira com nove mandatos concedidos pelo eleitor (cinco de deputado federal e quatro de governador) ainda mereceria dele gratidão e nada mais relevante que um cargo (sem eleição) no Senado brasileiro.
E omitindo-se (até criticando) quem observe na situação um arranjo político de duas faces: atrair o siqueirismo e fortalecer uma base para as eleições de 2020 e 2022. Ou seja: no que se via gratidão, estaria o pagamento de uma fatura (compromisso) e ao mesmo tempo uma operação matemática e comercial com vista a conquista de novos nichos de mercado eleitoral. Tudo isto aí seria de menos para uma gratidão de mais. O arranjo, um vício inexistente para uma virtuosa gratidão que, aliás, já concedida nos nove mandatos.
Deixaram de lado questões em discussão no Judiciário como os desvios de R$ 1,2 bilhão do Igeprev, a Operação Ápia, as acusações de desvios da ponte FHC, a ponte sobre o rio Tocantins, os escândalos das compras sem licitação na saúde, as delações na Justiça Federal, os passivos da Hidrelétrica Luis Eduardo,. Mais: o loteamento da Capital com dações de pagamento sem licitação a grandes empreiteiras, o alojamento da pobreza a 20 km do centro da cidade, as desapropriações ilegais de áreas nas proximidades da Capital e sua entrega a escolhidos.
Deixaram de lado as arbitrariedades públicas do ex-governador, nos seus governos, o escândalo da dupla renúncia em 2014,os prejuízos causados aos empresários que se instalaram em Miracema, que tiveram que se virar de uma hora para outra porque o governador desentendeu-se com o prefeito da cidade. Tudo isto aí por conta da implantação do Estado que a narrativa recente aponta-o como seu criador, apagandos os líderes do passado de forma eletiva.
Tudo isto por um merecimento afetivo. Algo que até diminui o ex-governador que sabe muito bem que o prestígio para o político se traduz em votos. E ele,por um motivo ou outro, não foi às ruas atrás dele nas últimas eleições. Evidente que sempre se poderá argumentar que teria justos motivos para não fazê-lo e que sua história fosse relevante. Jair Bolsonaro também não foi às ruas na campanha eleitoral, mas de seu mandato não se pode dizer que derivado do exercício de gratidão.