Uma personalidade multifacetada, dúbia e, simultaneamente, ambígua esta revelada ao Fantástico ontem pelo ainda juiz federal Sérgio Moro. Dando entrevista como ministro nas dependências do seu gabinete na JF (ainda no cargo de juiz) não viu nada demais, dentre outras coisas, em a polícia mandar bala em supostos bandidos por armados (como defende o governador eleito do Rio, aliado de Jair Bolsonaro).

Não explicou também porque, como juiz criminal, desconheceria a legislação quanto ao abate de criminosos. "Tenho minhas dúvidas se isso já não é acobertado pela legislação", disse à repórter. Também não viu qualquer anormalidade entre estar recebendo salários públicos, ocupar ainda um cargo titular de juiz numa Vara Federal e ter dupla atividade, dividindo-se entre sua atividade jurisdicional (em Curitiba) e reuniões com técnicos do futuro governo em Brasília.

Estava ali o mesmo juiz que condenou tanta gente por uso de caixa dois de campanha, defendendo no pedido de desculpas de outro aliado, Onix Lorenzoni, também indicado ministro, réu confesso, a reparação adequada (e prevista na lei) ao mesmo crime de caixa dois da JBS (R$ 200 mil) pelo qual condenou tanta  à cadeia gente nos últimos três anos.

Moro, como qualquer cidadão, tem o direito de querer o que lhe der na telha, desde que dentro da lei. Pode deixar o cargo de juiz para ser ministro ou varrer ruas. Não pode é querer ser merecedodr da população que paga seus salários, do entendimento que lhe seja mais favorável, ainda que espanque a lógica: a decisão de ser ministro da Justiça tivesse sido um raio de luz, obra do acaso. E não resultado de um projeto político cuja argamassa fosse formada justamente por suas decisões judiciais num país que já não suporta tanta corrupção. Até de princípios.

Evidente que a maioria de suas decisões, ao serem respaldadas pelos tribunais superiores, certamente não padeceriam de vícios formais. Mas a motivação agora revelada de forma transparente as contaminariam do ponto de vista ético e moral, diminuindo o poder Judiciário.

Jogando luz em tanta decisão política do magistrado como aquela da divulgação ilegal de conversa telefônica entre a então presidente Dilma Roussef e o ex-presidente Lula. Sem essa ação ilegal, Lula seria ministro e certamente Dilma não seria defenestrada do Palácio do Planalto.

Ou a liberação, às vésperas da eleição, do sigilo da delação do ex-ministro Antônio Palocci, favorecendo indiscutivelmente um dos candidatos. Justamente aquele que o convidou a ser ministro e que nele despertou, em menos de duas semanas, a vontade política do juiz. Mesmo refutando ser ministro um cargo político, dizendo-o técnico. Ora, técnico era o de juiz que não depende de indicação política.

Ou seja, quando Sérgio Moro mandava para cadeia Lula e tantos outros, ainda que fosse a decisão correta, não se estava diante apenas de um combate à corrupção, mas de um projeto político como ficou claro na entrevista, onde aparece de forma cristalina a personalidade e vontades que Sérgio Moro acobertava debaixo da toga e de suas decisões.

Reveladas de forma primária por sua ainda dificuldade operacional de, mesmo que possa desejar, praticar a desfaçatez  e os trejeitos dos políticos que mentem (como entregou-se ontem, lapso depois corrigido pela limitação do "nem todos"). Mas isto é só uma questão de tempo.

Uma anomalia na Justiça brasileira que Sergio Moro (e seus tributários) quer que a população entenda como enquadrada no estado democrático de direito.

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