Cinco cantadores (compositores e músicos) do Estado abriram ontem (Teatro Fernanda Montenegro) a temporada de um show que pretendem circular no país. Cinco de cinquentões a sessentões (Genésio Tocantins, Braguinha Barroso, Lucimar Alves, Juraildes de Cruz e Dorivâ Borges) lotaram o teatro formada por uma plateia em que muitos sequer haviam nascido quando alguns sucessos regionais do quinteto como Dodói (Juraíldes), Frutos da Terra (Genésio/Hamilton Carneiro) ou Catirandê (Braguinha/Lucas Farias) foram criadas.

AmazôniCantoria foi apresentado em 1h30 (15 canções). Teatro com as mais de 500 poltronas ocupadas para assistir um show de música popular regional com esmerada produção. Ali, apenas para curtir as músicas sem precisar de outra motivação que não a MPB.

Não só aplaudindo, mas cantando com os artistas seus sucessos, numa simbiose contagiante. Caso raro nestes tempos em que espetáculos de cantores se transformaram em impulso para consumo de bebidas e assemelhados, emprestando-lhes o papel de acessório de que as drogas e sexo seriam o principal. Uma nítida inversão de valores humanos.

Uma opção de vida também demasiado humana como o foi, com efeito, ontem, para o público (e cantores de AmazôniCantoria) que escolheram inverter essa lógica. Dando razão ao princípio filosófico de que a arte exerce secundariamente a função de conservar e recolorir um pouco representações empalidecidas.

No ritmo balanceado da catira e da súcia com jeitão de folia e seus pandeiros. Uma batida sequencial comum em todas as canções apresentadas, no que termina expondo não só um repertório, mas um movimento  na própria finalidade da criação artística, onde o repertório seria, a um só tempo, dele reflexo e instrumento.

Para isto, tecem um vínculo entre diversas épocas, fazendo os espíritos retornarem. Impulso que pode ter levado Juraildes da Cruz a participar, mesmo com problemas nas cordas vocais, após uma cirurgia. Situação que o público entendeu, no que foi auxiliado pelo parceiro de vida toda dos festivais, Genésio (Sampaio) Tocantins.

Os cinco cantadores com sua própria história musical. Juraildes com os grandes sucessos (Nóis é Jeca Mais é Jóia/ eternizada e amplificada no país por Genésio no Faustão/Globo) e Dodói (que lhe rende reconhecimento até hoje e com a qual por pouco não ganhou outro festival da Globo nos anos 80).

Genésio com seu Frutos da Terra (um clássico regional de Goiás e Tocantins), como o seu Tempo de Colheita (menção honrosa no Festival de MPB da Tupi;1.979) que poderia ter incluído no repertório. Mas mostrou a belíssima Recado de Dona Miúda.

Braguinha (um dos maiores papadores de festivais pelo país e autor da Canção de Amor a Palmas, com Neusinha Bahia no início dos anos 90) mostrou sua Catirandê, canção produto de pesquisa sobre ritmos do Estado. Catira e súcia.

Dorivã sacudiu a plateia com Passarim do Jalapão e Romeiro do Bonfim e Lucimar (autor de músicas de sucesso nacional na voz de duplas sertanejas conhecidas e que abriu e fechou o show) não ficou para trás com sua Portal Amazônico, que abriu o show e terminou sublinhando e traduzindo as razões do encontro de tanta luta: Venho do amor que tenho!!!

O projeto é tão relevante (e o público parece ter assim entendido) no que provoca (e pode alterar no marasmo e falta de janelas para músicos regionais, não só no Estado, mas no país) que se tornam irrelevantes os aparentes problemas técnicos do show. Insuficientes para encobrir o seu valor tanto estético quanto revisionista do modelo, circunstancialmente, em vigor na MPB regional e nacional.

Ainda que apresentasse problemas de roteiro (a apresentação dos artistas antes do show terminou antecipando o próprio roteiro facilmente perceptível na ordem das canções e na história dos próprios músicos). Algo dispensável e redundante dada a força da presença física, voz e narrativas dos artistas. Um exagero de subestimação da capacidade de percepção/interpretação do público.

O atraso de 20 minutos também poderia ter sido evitado, assim como os comerciais de patrocinadores após o último sinal de início do espetáculo. Minudências que talvez não tenham interferido na avaliação positiva da maioria da plateia mas que, para outros públicos mais exigentes e menos paroquiais, pode ser relevante.

Mas os cinco cinquentões e sessentões, como o serão todos um dia, vem do amor que tem que é também nosso. Bem representado na poesia musical de Lucimar para a abertura do espetáculo. Não poderia encontrar-se saída melhor para a entrada, no nosso interior,  da narrativa musical de AmazôniCantoria.

 

Deixe seu comentário:

Ponto Cartesiano

O vereador Josmundo (PL) – presidente da CPI da BRK – é um gaiato. Se não fosse pago pelo contribuinte para representá-lo no poder Legislativo, ser...

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morais, negou neste sábado Reclamação da BRK contra a convocação do CEO da empresa, Ale...

A Executiva Nacional do PSB se reuniu em Brasília na manhã desta quinta-feira (11), na sede nacional do partido, para debater o quadro geral das ele...