O PMDB, parece, descobriu a fragilidade do governo e, com ela, passou a alimentar a possibilidade de retomar a hegemonia política no Estado. No que, convenhamos, empurrado pelo próprio bate-cabeça governamental. As movimentações do partido nos últimos dias (juras de amor eterno e união como se têm feito mutuamente Marcelo Miranda, Junior Coimbra e Carlos Gaguim, antípodas até dias atrás), ainda que insufladas pela sucessão no comando da legenda, dão-lhe sopro capaz de impor a necessidade de sobrevivência partidária ao fisiologismo político a que se dedicavam, até agora, suas principais lideranças.
É um movimento que também deveria impulsionar os governistas a refletirem sobre suas ações e, com isto, capaz de provocar mudanças, com desdobramentos na vida da patuleia. Mas, até o momento, entretanto, têm-se, na maioria das vezes, priorizado ações fluidas que terminam por provocar insegurança (política, econômica e social) na população, acerca do projeto atual.E com isto, mais desgaste ao governo que, como bem demonstram as ações de Siqueira Campos, procura soluções, ainda que, pragmaticamente, mexa nas peças que, a priori, poderia dar-se a sensação de não saber o que quer, no que vejo justamente o contrário: se muda é porque sabe o que quer. E o que quer, pelo visto, não estava se mostrando, daí as alterações.
Na contraposição dessa ação assertiva do governo, entretanto, como um ponto
fora da tangente (mesmo não sendo) surgem notórios equívocos. Veja-se, por exemplo, o duvidoso ( e fracassado) Parlamento Itinerante
realizado no Bico, que não poderia
surtir efeito diferente, a partir da própria concepção, onde se observou um Legislativo a reboque do
Executivo, no que poder-se-ia considerar como mero exercício de proselitismo
político à custa de recursos públicos. Um tiro no próprio pé.
E as ações, do gênero, se sucedem a cada dia. A última é a ideia
de tentar substituir o poder público por Organizações Não Governamentais
(patrocinadas a maioria com recursos públicos, claro) na administração de
patrimônio público, como a Praça dos Girassóis, numa clara demonstração de que setores
políticos da própria administração se
acham incapazes- de resolver questões simples de ordem pública, como por
exemplo, cuidar da iluminação da Ponte
FHC. Vai que pega? É uma simples proposta,claro, mas a sua exposição, sem qualquer discussão interna, ainda mais proveniente do próprio governo, como uma ação governamental, implica em problemas políticos. E, assim, mais desgastes.
Situações típicas que terminam por impor, de imediado, ainda que sob premissas superficiais e falsas, o raciocínio de que o governo age de forma equivocada e sem rumo. O que não é verdadeiro. O governo
tem acertado em vários setores, especialmente no que diz respeito a questões
orçamentárias, fez o concurso público, Fazenda arrecadando como nunca, a saúde
parece entrar nos eixos, não se vê denúncias públicas de roubalheiras e se há
cooptação não republicana de parlamentares ela não se dá como na forma acintosa
que viu-se não há muito tempo. Ou seja:
os próprios agentes políticos do governo, com ações impensadas e, como tal,
passionais, às vezes lunáticas, provocam a maior parte do desgastes a que ele
é submetido.
E isto o PMDB demorou para perceber em função dos próprios
interesses de grupos que chegaram até
mesmo a montar (nas suas cabeças), com três anos de antecedência (2012)
uma chapa majoritária onde estariam PSDB e PMDB. Um amadorismo sem par de difícil compreensão pois, do outro lado,
não estavam amadores.
Daí que, se o PMDB caminha para a pacificação que pode fortalecer o partido na sua vontade política de tentar retomar o Palácio Araguaia, ela foi, certamente, impulsionada pelas movimentações dos próprios agentes políticos que causaram-lhe a disensão no ano passado, seccionando, indiscutivelmente, o partido em peemedebistas governistas e oposicionistas quando deveriam, moralmente, todos os peemedebistas estarem na oposição (propositiva e responsável) onde os eleitores o colocaram. De sorte que a ideia que dá é a de que os governistas teriam fisgado o PMDB, que mordeu a isca, deram linha demais e quando tentaram puxar, não conseguiram tirar o peixe da água.
Ainda é cedo para concluir-se se essa união do PMDB pode ser momentânea em função da sucessão no diretório, mas para o próprio governo (e para a democracia) é salutar que prevaleça o entendimento interno partidário em benefício da própria população. E deixar as urnas decidirem o projeto que desejam, que pode ser até mesmo a manutenção do que está colocado.