Palmas completa nesta segunda, 20 de maio,  24 anos. Observo as reminiscências como algo a ser lembrado e não como fator de impulsão  que, como  projeção, se dá na forma abstrata diante da vida concreta. Até porque o passado  ninguém mais o altera, assim como não temos a condição de determinar o futuro. O encontro entre o sujeito e objeto é que nos concerne.

Trazendo isto para as projeções da cidade que todos imaginaram, existe um débito enorme e ele se dá no incrível déficit  de moradias na cidade que foi criada numa área sem qualquer limitação, para que todos tivessem um lugar para morar,  mas que na delimitação provocou a despropositada concentração de imóveis em poucos, na sua apreensão por grandes empreiteiras (15 mil lotes só nas suas mãos) na estupenda concentração de renda e nas deficiências em serviços básicos de saúde pública.

Palmas hoje tem, relativamente,  mais médico que farmácia, mais hospitais que botecos. Parque industrial capenga mas explosão de condomínios de alto luxo e prédios de apartamentos de classe A. Uma cidade que tem um orçamento público de mais de R$ 750 milhões/ano e um PIB per capita da ordem de R$ 14 mil, o maior do Estado, apesar de pouco mais de duas dezenas de anos. Cidade de contrastes abissais.

Da Sapolândia ao Taquari, a cidade foi sendo empurrada cumprindo os seus objetivos urbanísticos sem, entretanto, cuidar de gente. E cidade se planeja observando que ali viverão pessoas. É possível construir essa cidade perfeita que os arquitetos Walfredo Antunes e Luiz Fernando Cruvinel imaginaram nas suas pranchetas a pedido de Siqueira Campos? Não sei. Talvez não.

Lembre-se que a escolha deste lugar  foi pensada séculos antes pelos antepassados que já visualizavam a capital dos tocantinenses ali próximo de Piabanha (hoje Tocantínia), região central do Estado. Mas não era essa a intenção dos políticos contemporâneos que se digladiavam entre Araguaína, Porto Nacional e a capital provisória, Miracema. No meio de tudo isso, o sistema econômico-financeiro da região Norte de Goiás apresentava as suas armas. Mas isto tudo é história e como tal não consegue mudar o presente.

E o que temos hoje?Uma cidade com boa qualidade de vida, índices de crescimento superiores ao país mas indicadores de pobreza indiscutíveis, que descortinam duas cidades: a cidade dos que deram certo e a daqueles que não tiveram as mesmas oportunidades, apesar de se amplificar ser Palmas a cidade das oportunidades. Os indicadores demonstram, de forma inequívoca, que a cidade é mais dos que não tiveram oportunidade do que dos outros que se deram bem. E porque os primeiros não o deram? A resposta sé se enquadra se trazermos os dados para o plano individual das vontades e esforços, tangenciando o poder público que os atraiu com a promessa de uma nova Canaã.  Ou seja, a Capital do Tocantins não difere da maioria das cidades brasileiras. O resto é conversa fiada, proselitismo político para realçar diferenças e delas fazer uso diante de circunstâncias que o caibam.

Escrevo isso porque acompanhei  de perto (assim como muitos que aqui chegaram na época)  Palmas, desde a sua criação. Testemunhei, como  jornalista e cidadão, todas as administrações que passaram pela cidade. Vi a submissão de Fenelon Barbosa a Siqueira,no pouco tempo em que administrou a cidade,  as obras de Eduardo (espaço cultural, iluminação pública, esgotamento de águas pluviais, água tratada e os jardins), assim como os problemas de saúde que enfrentou e que o obrigavam a fazer tratamento fora do país,  e ainda assim não deixava a cidade, como o faz o atual prefeito Carlos Amastha.  Presenciei o trabalho do Doutor Odir, Nilmar Ruiz e Raul Filho, enfim, como escrevi lá atrás, tudo passado, sem condições de ser alterado. Assim como os outros fatos relevantes que devem, isto sim, ser revistos para serem lembrados e não se façam com eles o que ainda tentam fazer com outros autos do passado, às vezes, mudando os personagens e o rumo da centenária luta de criação do Estado.


São histórias. Cada um tem a sua e a registra. Por exemplo: no dia 20 de maio de 1.989, de madrugada, eu e o jornalista Tião Pinheiro, editor chefe do JTO, embarcamos na madrugada numa aeronave da Brasil Central (depois TAM), no aeroporto Santa Genoveva em Goiânia, com destino a Palmas. Sabíamos que o tempo era curto. No vôo, tranquilo e agradável diante das piadas do cantor Genival Lacerda que faria o show e viajava conosco numa pequena aeronave que quase não o cabia. Descemos em Porto Nacional e seguimos todos de ônibus para Palmas. A estrada entre Porto e Palmas não era asfaltada, maio era mês de chuva, pontes problemáticas e os ribeirões  Água Fria, Água Suja, Xupé e São João saindo pelas ribanceiras.  Chegamos ao local do cruzeiro, na verdade fora instalado ao lado da rodovia que ligava Porto a Tocantínia.  Monumento que uma secretária municipal de Cultura, anos mais tarde, tentaria mudar de lugar para possibilitar a construção de uma avenida asfaltada em torno do Palácio. Fiz um artigo severo sobre isso. Não por minha causa, claro, mas a idéia foi para a gaveta e o cruzeiro foi deixado em paz.

Ali, no dai 20 de maio de 89, as aeronaves estavam aterrissando. Muitas pequenas aeronaves na beira da rodovia que foi transformada em pista de pouso. E ônibus, muitos ônibus que transportavam as pessoas para o que seria a Capital. Muita gente de praticamente todos os municípios do Tocantins ali, comemorando um dia pelo qual tinham lutado séculos.  Fomos direto para o stand da Organização Jaime Câmara  onde estavam os diretores Luiz Fernando Rocha Lima e João Rocha, então Senador. E o presidente da empresa Jaime Câmara Junior. Alias, Jaime Câmara, o pai, além de financiador de políticos que defendiam a criação do Estado, foi ele próprio um dos grandes idealistas da separação, implantando a empresa no Nortão de Goiás, onde faltava tudo, sem qualquer perspectiva inicial de lucro. Despesas, aos montes, a programação da TV era transportada em fitas nos ônibus. 

O stand da OJC era próximo da cruz e tinha uma exposição de fotografias do Estado. Mais à frentes, uns 500 metros abaixo, o palco onde o grupo Andanças, de Lúcia Quilombo (hoje Lucia Rocha, amiga de infância e conterrânea), se apresentou antes de Genival Lacerda. Mais adiante, barracas e mais barracas, ali onde se localiza o prédio da Receita Federal, na beira do córrego. Pessoas se servindo de um churrasco de carne fria e pequenas porções de arroz tropeiro.

Acompanhamos a primeira missa celebrada por Dom Celso de Almeida, bispo ligado à Comissão Pastoral da Terra. e um dos defensores dos sem terra  ali no São João. Aliás, quando se passa sobre o ribeirão São João,  no sentido Porto Nacional, não se tem conhecimento do massacre de sem terras (na época denominados de posseiros) que ali aconteceu na década de 60.

No dia 20 de maio, depois da missa, vimos Siqueira Campos caminhar para o morro onde hoje está o Palácio Araguaia e dali acionar o trator abrindo alguns metros de rua que seria a Avenida JK, no sentido oeste-leste, do que hoje é um lago, para a serra. De lá pra cá, foram tempos difíceis. A primeira ponte da Teotônio, as ruas de chão, a falta de iluminação das ruas, a energia que faltava às vezes dez vezes ao dia. A primeira rua iluminada, as escavações para o esgotos de água pluvial, os supermercados, a feira, os primeiros bares, o potó e as amizades sendo fortalecidas pelas dificuldades diárias. No jornalismo, ao lado de grandes amigos no início da cidade, éramos embalados por um projeto de vida. Muitos que aqui chegaram, voltaram para suas origens. Outros não. E a cidade é o que é. Nos a transformamos, para melhor ou pior, no dia-a-dia. Se deixarem, inclusive alguns representantes da classe política.

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