Há pelo menos três meses conversava com o monsenhor Jacinto Sardinha em intervalos quase semanais. Havia convencido o sempre Padre Jacinto  a gravar uma entrevista para o meu programa Coisa Nossa (que vai ao ar aos sábados, as 10h, na TV Norte/SBT Tocantins).

A idéia era o Monsenhor contar sua história e o seu pastoreio no Seminário São José. O internato, as desobrigas, o Mato Escuro, os corredores de arquitetura românica do prédio em que viveu por décadas. E as centenas de jovens que foram seus alunos no internato. Uns seguiram em frente no ofício de padre, em outros Padre Jacinto conseguiu despertar outro homem.

A solidão e amplitude do silêncio que reina entre aquelas paredes do Seminário, a capelinha lá dentro onde se rezava as missas das 6h, o refeitório, a garagem de Dom Alano (construída por meu pai),  a distribuição do leite Aliança para o Progresso, Padre Luso, Padre Alano, Padre Nonato, Dom Celso, Monsenhor Maia, Seu Manoel, o português tocador de sinos, enfim.

A cultura de que era portador (conhecia como poucos os grande filósofos da civilização) o mais remanescente dos padres de uma época histórica da igreja Católica em Porto  Nacional que praticamente educou uma legião de nortenses, então abandonados à própria sorte no interior do país, era e é ainda desconhecida da maioria dos hoje tocantinenses. Uma história que valia (e vale) a pena ser contada.

Na ultima conversa que tivemos, o Monsenhor me disse que iria a Goiânia resolver alguns problemas.Disse-me que quando retornasse, faríamos a entrevista, conversamos sobre como o faríamos, caminhando entre os pilares quase centenáros, pararíamos no local onde Padre Luso encostava sua cadeira a rezar, naqueles corredoroes. Enfim.

Preservou-me, entretanto, nos dias seguintes do que o acometia e que descobri logo depois. A tranquilidade com que enfrentava o problema resultava, entendi, da fé que o movia e que o impulsionou por décadas, quando deixou Minas Gerais para pastorear almas no setentrião goiano.

Na semana passada fiz novo contato no Seminário São José e um seminarista atendeu-me prontamente, me disse que tinha conhecimento das nossas conversas e que o Monsenhor havia-lhe dito que quando chegasse de Goiânia, gravaríamos a entrevista para o Coisa Nossa. E que era para eu esperar mais um pouco. Orientou-me ligar esta semana.

Não deu tempo: padre Jacinto nos deixou hoje abrindo um buraco que não será preenchido. Na alma dos moradores de Porto e na história do Estado. O velório ocorre amanhã na Igreja São Judas Tadeu, do padre Luso. Igreja também construída por meu pai, o pedreiro Augusto que demorou mais de três anos para construí-la. Sem custo para padre Luso e para a Igreja.

Um edifício, de Padre Luso e Padre Jacinto, que acompanhei de perto na  minha infância. E que irá estar sempre dentro de mim, como as mãos e a colher de pedreiro na  mão canhota do meu pai a ajudá-los nesta construção. Tanto física para os fiéis, como moral e ética para minha formação.

 

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