Dois deputados, idêntica origem e representação, dois modos distintos: Valdemar Junior e Junior Geo. Valdemar, bacharel em direito, decidiu reconduzir ao cargo de Chefia de Gabinete um servidor comissionado investigado em desvios de recursos públicos no próprio Legislativo e no seu mesmo gabinete. E já acusado por peraltices penais quando gestor municipal.
Valdemar deve se movimentar com a fundamentação argumentativa de que todo cidadão é inocente até prova em contrário (condenação em última instancia), deixando de lado que no poder público, a coisa seria invertida: na dúvida, o pêndulo seria pela sociedade.
A reação do deputado está a demonstrar confiança no funcionário e é relevante que, pessoalmente, assim o seja. Mas de desconfiança na sociedade que delegou-lhe o cargo em representação, representada no poder de polícia que o investiga e responsável pelos salários nos cargos no serviço público, onde se exige determinadas condições para exercê-los. Entre o público e o pessoal, ficou com o segundo. Não haveria reflexão que indicasse possibilidade de culpa e, portanto, de arrependimento.
Junior Geo, professor, cinco dias depois sem esboçar qualquer reação de alinhamento à população ou ao governo na interdição da ponte sobre o rio Tocantins, decidiu seguir os eleitores que o elegeram e encampar o movimento em defesa da cidade.
Na dúvida, escolheu a sociedade às suas avaliações pessoais. Ainda que possa ter sido paciente de reflexões, ao render-se à vontade da comunidade, expõe, mesmo que não tivesse motivos para mostrar-se culpado, motivos para que se concluísse arrependido por premissas deduzíveis de sua posição anterior.
Separa-nos, a ambos, a ética. Na de Spinoza, está lá: o homem que se conduz pela razão é mais livre na sociedade civil, onde vive de acordo com as leis comuns, do que na solidão, onde obedece apenas a si mesmo.