Estamos seguindo bem. Agora tudo tem que ser feito na marra. Se o povão quer, que assim o seja.  Tudo seria uma  maravilha se não esbarrasse nas instituições, não é verdade!!!  Se há manifestação, vale até cancelar-se reajuste de energia na madrugada, sem qualquer análise econômico/financeira a priori.  Não que o cidadão não tenha direito a energia mais barata – e que a justiça não esteja aí para protegê-lo -  aliás o Tocantins tem  a sétima energia mais cara do país. Mas a quantidade de declarações sem nexo de agentes públicos e lideres de movimentos populares nos últimos dias é um espanto sem paralelo.

Coube até  mesmo a especulação (por parte do próprio governo)diga-se, de estatizar novamente a companhia de energia elétrica, onde o poder público detém 49% das ações.  Se já não bastasse a dívida pública fundada do Estado (na ordem de R$ 1,8 bilhões/2012) e o passivo permanente (de R$ 9,5 bilhões/2012), a administração aventa adquirir os 2% que faltam para assumir o controle de uma empresa cujo grupo controlador, estima-se, deve R$ 2 bilhões a curto prazo e R$ 5 bilhões a longo prazo. Ou seja, imagina-se assumir mais passivos, sem qualquer capacidade de investimento (no ano passado o governo  investiu amenos de 10% do orçamento – R$ 547 milhões de um orçamento executado de R$ 5,7 bilhões) e que ultrapassou, nos primeiros seis  meses do ano,  os 49% das receitas  estabelecidos pela LFR para despesas com funcionalismo. E o custeio?E as amortizações das dívidas? E os recursos carimbados?  É para levar a sério uma proposta desta?


Na verdade, o proselitismo populista, de todo lado,  encobre várias questões que os representantes deveriam demonstrar aos representados. No Tocantins, o valor da tarifa é formado pela compra de energia das PCHs – energia mais cara que a Celtins comprava de empresas do próprio grupo e a revendia, porque a energia produzida pelas UHE, mais barata, é destinada a outros Estados(40,97%), encargos tarifários (6,55%) e transporte (2,35%). Estes custos compõem a tal parcela A,  custos não gerenciáveis que a companhia apenas cobra do consumidor o ressarcimento do valor que gastou.  O restante, os  50%, fica por conta da parcela B, que são os custos gerenciáveis (investimento, pessoal da empresa, depreciação, manutenção e por aí vai). Aqui vai o lucro das empresas, ainda que o grupo Rede certamente tenha tido lucro extraordinário (legal, diga-se) com a compra de energia, para revenda da Celtins,  das próprias empresas do grupo. Aí, sobre isso tudo vem os  impostos: ICMS, PIS, Cofins, contribuição de iluminação público.


No caso do Estado que assumiu,  abruptamente, a briga, surge a primeira questão: o governo detém 49% das ações da empresa. Se reduz a tarifa, deixa de arrecadar menos ICMS e diminui a capacidade de investimento/subsídios para a tarifa social (o Estado desejaria lucro financeiro?), claro, afinal, a empresa terá menos recursos disponíveis e, portanto, menos valor de  mercado. Menos caixa, menos subsídio, menos benefícios sociais.

E porque o governo, então, não diminui a alíquota de ICMS da energia? Vejam bem: oficialmente o ICMS é de 25% mas matematicamente é de 33%, porque o Estado considera o valor da conta como 75% do valor líquido da energia consumida. Ora, em 2012, essa arrecadação foi de R$ 159 milhões, 10,7% de todo ICMS recolhido. É dinheiro que não necessita cobrança do Fisco por motivos óbvios. E aí, o governo elege prioridades: entre diminuir a arrecadação do governo e as receitas da Celtins,  opta, politicamente, pela segunda, dando a entender que está combatendo um mal quando está atingindo também a  população da mesma forma, afinal diminuindo as receitas da companhia de energia estará retirando receitas também da população, proprietária de metade da empresa. Ou estou enganado? Afinal, quem paga os investimentos no setor?

Na verdade assemelha-se a um engodo. O governo poderia diminuir o ICMS que talvez representasse menos prejuízos. Se não o faz, assume o  próprio risco. É provável que só o fará (não só Estado do Tocantins) quando os congressistas mudarem essa sistemática de i
munidade interestadual do ICMS da energia. Aí, sim, o ponto central da questão. Hoje, os Estados (como o Tocantins) não recebem nada pela energia que produzem. O ICMS é no consumo, há imunidade interestadual. Imagina, o Tocantins (dados de 2009) gera 7.795 gWh de energia e consome apenas 1.233 gWh. O excedente de 6.563 gWh é comercializado e não entra qualquer ICMS para o Estado. O Tocantins é o 10º produtor de energia do país. E quem compra? Ora, São Paulo,por exemplo, produz 69.952 gWh e consome 87.334 gWh. Precisa de 17.392 gWh que vai comprar onde tem execedente.

Há propostas no Congresso de supressão dessa imunidade interestadual,  que  impõe perdas aos Estados produtores que, na verdade,  são obrigados a bancar os custos tanto ambientais como de infraestrutura.  As propostas de alteração vão de um ICMS interestadual  com alíquotas baixas, que variam de 2% a 7%. Os Estados perderiam um pouco no ICMS interno, mas ganhariam (e muito) com a comercialização (o Tocantins vende 85% do que produz).

Se  hoje a alíquota interna é de 25%, pela proposta de 2% de interestadual, o Estado receberia (por dentro)  6% da partilha do ICMS do destino. Com 4% (outra proposta) o índice da partilha seria 13% e com 7%, o Tocantins receberia 23% do ICMS do destino. Isto somado ao ICMS Interno compensaria a sua diminuição e aí poder-se-ia diminuir a tarifa de energia.

Nem os tais manifestantes de rua, tampouco os parlamentares e governo entram neste debate. Nem em outros que existem sobre o assunto.  Apesar de,  pragmaticamente, ser a saída para a questão. Preferem ficar no ilusionismo de demonstrar, empiricamente, como se isso fosse possível, que energia elétrica sai do nada e que, na última hora, um anjo cairá do céu e pagará a conta. Assim seria mais lógico propor energia de graça para todo mundo.

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