Parlamentares e governo ainda não perceberam o que estão a elaborar com suas ações e omissões. Se ontem pela segunda vez em menos de mês, o governo ignorou audiência pública convocada pelo Legislativo para apresentação dos balanços de 2017 e dos dois quadrimestres de 2018 – improbidade administrativa e crime de responsabilidade – e a justiça espetou-lhe obrigação de voltar atrás em demissões de delegados de cargos de chefia, os auditores responsáveis por arrecadação de receitas são empurrados a uma greve iminente por similar e desinteresse pela coisa pública e na aparente falta de interlocução de deputados e governo.

Só nestas três situações tem-se o espectro do Palácio Araguaia e da Assembléia. O governo deixa de cumprir sua responsabilidade e recebe do Legislativo reciprocidade na deliberada omissão. Os governos são obrigados a prestar contas ao Legislativo. É uma determinação legal. Não é uma prerrogativa. Assim como o Legislativo é obrigado a enquadrar o governo na sua negativa a atender uma convocação.

Contrariamente às avaliações bucéfalas de parlamentares e aspones governamentais, esse conluio deputados e governo favorece, por consequência lógica, o enfraquecimento dos poderes. E não o contrário. O não compromisso fortalece no consciente popular a idéia de que teriam outros interesses que não os institucionais.

O tudo vale e a sem cerimônia dos parlamentares e do governo, com efeito, provocam, por outro lado, com o enfraquecimento, a ascensão de outros setores pelo simples princípio físico do vácuo. Sem resistência institucional retórica e agentes de decisões frágeis (tanto políticas como administrativas), deputados e governo terminam engolindo sapos. Alguns barbudos como é o caso dos delegados onde o governo é acusado de desvio de finalidade por exercer sua competência constitucional.

Uma inequívoca demonstração de que, no Estado, os representantes da população eleitos pelo voto popular e universal andam, com suas ações e omissões, a empurrar, de fato, funções e competências a setores que não as detém de direito.

Não é preciso muito esforço para enxergar que essa bagunça generalizada produzirá mais bagunça. E as bagunças, como é sabido, são terreno fértil para mais desvios. Inclusive de recursos públicos. Isto levaria a outro raciocínio: talvez fosse mesmo esta a vontade política em curso de deputados e governo.

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