Caros, o governador Sandoval Cardoso tem méritos incontestáveis, ainda que discutíveis sob vários aspectos. Especialmente na sua movimentação pendular para mostrar-se o novo com métodos velhos que lhe dão uma roupagem camaleônica, mais para uma atuação performática de drag queen que fundada no maquiavelismo primitivo historicamente atribuído ao siqueirismo. Isto pode explicar porque o governador Sandoval Cardoso decidiu investir, ontem,  contra o mensageiro em detrimento da mensagem. O que, convenhamos, não é, certamente,  a hora mais oportuna tampouco adequada para um político, candidato à reeleição de  um governo, trocar alhos por bugalhos. E, contraditado,  preferir fazer uso da desqualificação da pessoa para revogar a verdade da coisa por ela “apenas”  colocada. Como é óbvio, ainda que consiga causar algum desconforto, a ação contrapõe-se apenas à verdade relativa porque não enfrenta a tese, que é o que importa. 

Talvez acossado pelos números das pesquisas (uma diferença de 30 pontos percentuais do seu principal adversário, Marcelo Miranda) - que não consegue alterar a 32 dias das eleições –   Sandoval meteu os pés na jaca ontem. Não acredito que orientado por seus marqueteiros, mas reflexo do forte componente emocional  do grupo e  provocado até mesmo pela impotência para lidar com adversidades. E aí aflorou a herança ideológica siqueirista do candidato, desapareceu o ar de moço bom  ou de bom moço. 

Se Siqueira dava sopapos em  jornalistas, atirava-lhe celulares, demitia-lhes nos órgãos públicos e pedia-lhes a cabeça nas empresas privadas sobre as quais  imaginava possuir comando,  Sandoval  apontou suas armas para duas categorias: os jornalistas e humoristas!! Na metade da campanha eleitoral. Numa delas, atacou o jornalista Rogério Silva, um profissional  sério e competente, do qual nunca se ouviu falar que praticasse bandidagens, com mais de 20 anos empregado no Grupo Jaime Câmara. Sandoval fez uma acusação grave, a serem verdades as declarações a ele atribuídas.  

O governador (isto mesmo!!), candidato à reeleição, acusou o jornalista de ser “vendido”!!!! Sem apresentar qualquer prova de sua acusação!!! Disse mais Sandoval, nas declarações a ele atribuídas: “Só foi ele sair de lá, que acabou os programas perseguindo o governo e ele foi lá e correu para o programa do adversário, porque já estava a serviço dos adversários”.  Uma acusação grave, não só ao profissional, mas à empresa, uma organização séria e que contribui com o Estado mesmo antes de sua criação. Um dos maiores grupos de comunicação do país, que não precisa fazer rapapé para governador nenhum. Muito pelo contrário: os governantes é que dela se aproximam, dada a sua capilaridade e respeito. 

Tudo isto porque Rogério, como qualquer profissional ou cidadão, decidiu exercer o direito de trabalhar onde achar melhor. É assim num país democrático onde prevalece a liberdade de expressão e o direito de ir e vir. Não tenho procuração para defender Rogério Silva, apesar de conhecer o profissional e a pessoa, e reconhecer nele uma pessoa séria, honesta e do bem. Faço aqui a defesa da livre manifestação do pensamento, do direito de ir e vir, sem ser molestado ou levianamente acusado. Há um valor maior que é a liberdade de expressão e de locomoção que não  podem ser cassados por idiossincrasias arbitrárias, produto de ignorâncias principiais.

Assim como Sandoval tem muitos profissionais da área de comunicação na sua assessoria, seus adversários também os tem. E não é porque estariam com Sandoval que representariam o mal!!!! Ou para Sandoval ele é o bem e os outros,  encarnação do mal? Nos adversários, enxergaria o vício que ao seu lado seria virtude!!! Uma tremenda bola fora, ainda que possamos  estar de frente para o Sandoval real. 

De outro modo, para Sandoval, o desgoverno seu e de Siqueira Campos só existem por causa do Grupo Jaime Câmara. Todo esse caos que está aí (e que não é somente publicado pelos veículos do grupo) só existia na cabeça do jornalista Rogério Silva!!!!! A suspensão de cirurgias por falta de pagamento de fornecedor, a falta de pagamento do pessoal que trabalhou no Bonfim, o escândalo das caixas dágua de R$ 72 milhões no Sudeste, o escândalo de R$ 1,14 bilhão do Igeprev, o escândalo do lixo hospitalar não coletado, o escândalo do fechamento da UTI neo natal do Dona Regina,  o escândalo da morte de um garoto por falta de pagamento da UTI Aérea,  as renúncias coletivas de governador e vice, a adesão em massa de deputados estaduais, as denúncias de prefeitos sobre pressão para apoiar o governo,   a paralisação dos plantões médicos por falta de pagamento,  a não construção de hospitais (mesmo com recursos federais disponíveis), as denúncias de compra irregular de medicamentos, a falta de medicamentos, os medicamentos estocados de forma irregular  e assim por diante. Tudo isso aí seria atribuído ao jornalista Rogério Silva, que, pela acusação do Governador,  fazia uma espécie de manipulação do Grupo Jaime Câmara e, lógico, de todos os seus jornalistas. Por conseguinte, da grande maioria dos jornalistas do Estado!!!!! 

O governador que diz ser “a mudança que a gente vê” não parou por aí: atacou que Rogério Silva teria sido demitido justamente por isso. Uma inverdade absoluta que diminui, não o Governador, mas o Governo, o Palácio Araguaia, as Instituições. Quando um governador acusa, está-se diante de uma acusação de alguém que representa no Tocantins  uma população de 1,4 milhão de pessoas!!!  Mesmo que Sandoval tenha sido eleito com apenas 15 votos dos 24 deputados, pela Constituição ele representa 996 mil eleitores!!!!  Rogério Silva, na verdade, pediu demissão para aceitar a proposta. E não o contrário. E não que tenha sido demitido!!!!! Quem conhece o Grupo Jaime Câmara sabe como as coisas ali funcionam!!!! Uma mentira deslavada, assim como tem sido a maquiagem feita na publicidade de sua administração. 

Percebam que o governador Sandoval não contradisse a tese, nem pelo caminho direto nem indireto. Poderia negar os fundamentos das acusações que pesam sobre seu governo,  dizendo não ser verdadeiras.  Ou então negar as suas consequências e com isto refutar a tese principal (que não é nem nova), que é, em síntese, a existência de um desgoverno. Não fez uma coisa nem outra. Mirou sua bazurca para o mensageiro: os jornalistas.  Na sua antítese subliminar, termina por passar recibo do golpe que os fatos, apenas narrados pelo jornalista Rogério Silva no programa, mas ilustrados por notícias reais, deram em sua estratégia de campanha. Ou seja: Sandoval não conseguiu contraditar os fatos divulgados na imprensa, que ganharam certamente importância na narração do jornalista, o que dá bem a dimensão da credibilidade de sua imagem e do seu trabalho. 

De forma que o governador parece não estar mais lidando com a razão. Como Aristóteles, no seu dualismo, nada está no intelecto sem antes ter passado  pelos sentidos. O que explica, em parte, seu destempero emocional de ontem, originário de seu conhecimento e do que levado a conhecer.  E sem a razão para separar e organizar as informações, tem-se o caos. Daí que quando o “diabo”  quer dominar o homem, primeiro tira-lhes a razão. E o diabo não é sábio porque é sábio. E sim porque é velho. 

No novo país, oriundo de uma Constituição Democrática, após anos de regime de força e exceção, as pessoas podem trabalhar dignamente onde bem entenderem. Aliás, Sandoval, apesar de ter sido escolhido por Eduardo Siqueira, saiu-se melhor que encomenda, neste episódio. Expôs que apreendeu (e abstraiu para si) os princípios do velho siqueirismo, por isto, sábio a depender do ponto de observação,  fundado no seu criador, um dos defensores dos militares que arquitetaram o golpe de 64. Lá, quando se era contrariado, tinha os Atos Institucionais e o Eu prendo e arrebento!!! Hoje, não!!!!! Ainda bem, senão a tese de Sandoval, explicitada no desabafo seria nosso regramento moral. 

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