É deveras preocupante a corrida que milhares de pessoas no Tocantins (e milhões no país) procuraram as agências da Caixa, impulsionadas por aquele boato sobre o Bolsa Família. O efeito manada é sempre interessante observar-se porque, na maioria das vezes, ocorre como efeito de uma causa, aliás, como tudo na vida.
Por aqui, de outro modo, deveria provocar uma discussão mais amíude para além da observação de quem poderia se beneficiar da mídia viral.
Senão vejamos: o Bolsa Família é um programa destinado às famílias (isto mesmo, grupo familiar!!!) que têm renda inferior a R$ 70,00/mensais!!!!. O equivalente a míseros R$2 reais e 30 centavos/dia. Esses aí recebem a bolsa de R$ 70,00. Agora, me informe aí qual é a família de quatro pessoas que come e dorme (para ficar só nestes) com dois reais por dia? Ou, levando-se em consideração os privilegiados que ganham este teto - R$ 70,00 - (muitos não têm renda nenhuma) somando o valor da bolsa (R$ 70,00), sobreviveriam, ainda assim, com quatro reais/dia?
Pois é. No Tocantins essas famílias que têm o Bolsa Família (e que ganham até R$ 70,00/mês) são 136 mil. Ou seja, se levarmos em consideração os parâmetros do IBGE (cada familia teria quatro pessoas), seriam perto de 544 mil pessoas vivendo com R$ 70,00/mês por grupo familiar. O que equivale a 38,8% da população do Estado vivendo na faixa da extrema pobreza.
Esta discussão "passa batido" por que não interessam aos políticos (e aos segmentos organizados da sociedade) ficar lambendo as próprias chagas que abriram. E aí preferem valorizar o Bolsa Família que, no ano passado, mandou para o Estado R$ 187 milhões e 427 mil. Sem os quais, é de se imaginar, muitos tocantinenses poderiam ter morrido de fome. Em 2013, o Bolsa já destinou ao Estado r$ 20,7 milhões.
Há Estado mais famélicos. É provável que haja. Mas da região Norte do País, o Tocantins é o Estado que recebe mais recursos do Bolsa Família.
Em 2012 o Acre recebeu R$ 108 milhões e 452 mil (R$ 13,milhôes-2013), Roraima, R$ 70 milhões e 771 mil (R$ 7,5 milhões-2013), Rondônia, R$ 158 milhões e 646 mil (R$ 16,4 milhões-2013) e Amapá, R$ 83 milhões e 654 mil (R$ 9,2 milhões em 2013).
Resumo: se, em condições normais deveríamos lastimar a necessidade do Bolsa Familia pela radiografia da fome e do desemprego que expõe (que tem um fato gerador muito claro), o poder público é levado a, ao contrário, enaltecê-lo pelo que, em tese, combate. A única diferença para o par de botina é que a fome humilha e mata. Ainda que quem a estimule, o faça com instrumentos públicos.