As impropriedades apontadas na conduta do Zero  Um estariam presentes na maioria dos parlamentares e chefes de governo no país. No Tocantins, enumera-se às dezenas os vereadores, prefeitos, deputados, senadores e até ex-governadores que fizeram da representação popular o bilhete da sorte grande de suas vidas. Preocupação com as leis, só no andar de baixo. E isto vale também para, não raro, as instituições que deveriam zelar que não ocorresse e quedam-se, regra geral, inertes.

Depois da meia centena de depósitos picados de R$ 2 mil em segundos e minutos atípicos, o Zero Um agora é apontado como autor do pagamento de um título de R$ 1 milhão da Caixa. Também sem informação à Receita. Se não informou (sequer o beneficiário), alguém não pagou imposto e lesou os cofres públicos. Crime. Do cidadão comum, a RF cobra até recibo de consulta médica. E, claro, o imposto.

É uma anomalia, uma disfunção. Como é uma distorção a defesa da tropa de elite da forma como é conduzida pela turma de baixo: os nem tão inocentes, mas deverasmente úteis. Se Lula roubou, deve ser levado ao calabouço. Já o Zero Um não pode ser investigado nem submetido ao escrutínio das leis, da moral e da ética, porque é descendente do mito. E o mito, você já sabe: é onipresente, onipotente, onisciente e, lógico, intocável. Um vestal.

Se está diante, a prevalecer a tese, de um governo despótico e de um estado familiocrata. Sustentado, como é evidente, por uma revolta popular contra as roubalheiras, manejadas de forma competente pelos seus beneficiários, que tomaram conta da sociedade. Mas também por muita ignorância política.

Flávio Bolsonaro deve ser investigado e responsabilizado como outro qualquer, caso se confirme que infringiu as leis, como há não só indícios, mas evidências. Sem que isto seja tratado como obstrução (ou oposição) ao governo do paí, Jair Bolsonaro, que não é responsável, legalmente, por uma suposta má conduta do filho senador eleito.

Na verdade, a reação dos bolsonaristas é efeito previsível cuja causa é a eleição de outsiders populistas (há muitos por aí, Bolsonaro não está só, há Lula, Eisenhower, Charles Lindbergh, Donald Trump, Adolfo Hitler, Benito Mussolini), provocada por ignorância política e pela negligência conveniente de líderes políticos e partidos que são, nas democracias mais fortes, os filtros. Os guardiões dos regimes democráticos.

Resulta nisso: não se pode defender o cumprimento da lei para não opor-se ao mito que criaram na sua imaginação. Não se aproxima de mitologia, entretanto, no que isto pode dar.

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