O instinto de preservação e uma boa dose de "convencimento" uniram os deputados em torno de Toinho Andrade na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do Estado. Por 21 dos 24 votos, vai presidir o Legislativo por dois anos, podendo ser reeleito e, como terceiro linha de sucessão,  passivel de assumir o governo na vacância do titular e vice do Executivo.

Um deputado sob vara judicial há 24 horas por práticas consideradas corriqueiras, ainda que ilegais, no Legislativo onde uma dezena de pares se encontra também sob investigações diversas. O espírito de corpo explícito e o rolo compressor do governo expõem, com efeito, as fragilidades dos parlamentares que sujeitaram-se ao mandamento governamental sobre suas competências legislativas e representação eleitoral.

A hegemonia do Executivo sobre o Legislativo na imposição do aliado, sob tais circunstancias até policiais, e o seu êxito, informam que no Estado a falta de escrúpulos no exercício de representação popular pode sempre piorar e distanciar-se até o infinito de princípios elementares que, em absoluto, seriam subordinados às regras democráticas do voto parlamentar permitidas ao Executivo, Legislativo e ao cidadão comum.

Regras democráticas não estão acima de princípios éticos e morais. Pelo contrário, deles são originárias. Daí que se Toinho Andrade poderia até ontem auxiliar o Executivo, depois da busca e apreensão em seu gabinete passou a favorecer o contrário, a contaminar mais ainda o Palácio Araguaia, dada a inequívoca conexão que a sociedade e instituições agora podem vir a fazer mais a partir dos vícios que das virtudes.

Ou seja, um por todos e todos por um pode ter sido o lema. Ainda que o presidente eleito não seja condenado culpado e ter suas explicações (e confia-se que as tenha, não é condenado a nada e até aqui considerado honesto), a ética imporia respeito ao Legislativo que, com a suspeição segue agora também contaminado pela dúvida, com a mesma mancha inconclusa sobre suas decisões.

Se lixaram os parlamentares para a prisão dos deputados e presidente da Assembléia do Rio de Janeiro, para a Operação Lava-Jato ou os problemas do Zero Um de Bolsonaro. Tocantins não é Rio nem Brasil, devem confiar. Ainda mais com o governador aliado, esquecendo-se da estadia de  Sérgio Cabral em Bangu I.

Na prática, o Legislativo do Estado se transformou em um circo. Retiradas as exceções existentes, a eleição do deputado Toinho Andrade para presidente sendo objeto de ação judicial de busca e apreensão em seu gabinete com suspeita de ilegalidades e desvios de recursos público - ainda o filho vereador acusado das mesmas  impropriedades em Porto Nacional -  é a certidão registrada em cartório da imoralidade que tem,  em larga escala, permeado os interesses corporativos e pessoais privados dos parlamentares. E do respeito que conservam à população e ao contribuinte que rala para pagar seus impostos para financiá-los nos seus projetos.

Moralmente, por força das circunstancias penais que enfrenta, sem juízo de mérito sobre tais acusações, não haveria quaisquer condições tanto políticas quanto éticas de Toinho Andrade comandar um Legislativo cuja principal competência é justamente fazer as leis e fiscalizar para que se as cumpra. Ainda mais sendo público o número de imóveis de propriedade atribuída ao parlamentar do PHS alugados para o governo.

E que o deputado refuta, com certidões da Junta Comercial do governo, de forma até envergonhada em função do senso comum popular e dos auxiliares do próprio governo que cuidam das contratações dos aluguéis nos municípios onde estão instalados e sabem as orientações governamentais. Nada ilegal, mas incomensuravelmente incompatíveis e imorais.

A decisão da maioria, deduz-se, acompanha a medida de suas situações jurídicas penais numa casa onde quase metade de seus integrantes se defende na Justiça de acusações de desvios de recursos públicos, à semelhança do presidente eleito do Legislativo que pode, pela Legislação, assumir o governo do Estado, como terceiro na linha de sucessão estadual.

Mas nao é nada para um Estado que já teve  um ex-governador preso e quatro outros respondendo a processos por desvios de recursos. Ainda que quatro dos investigados tenham saído justamente da presidência do Legislativo direto para o Executivo. Ou seja, apenas estariam, agora, seguindo o fluxo.

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