Há movimentações nos últimos dias que sugerem não ser implausível uma aproximação do senador eleito, Eduardo Gomes, com o MDB do Estado. É uma engenharia que, se concretizada, atravessaria o projeto do Palácio Araguaia. Pelo menos cinco parlamentares (da situação e oposição) confirmaram a este blog, sob garantia de confidencialidade, as conversas. Pode até que não se dê, mas o território e o mapa estão na mesa.

E se isto se dá, seria impulsionado, em larga escala, pela apressada ação política, ainda que habilmente orquestrada, do vice Wanderlei Barbosa, supostamente incentivado pelo governador Mauro Carlesse, que certo modo congela e impõe projetos a outros aliados com quatro anos de antecedência. E ninguém vai ficar parado esperando ser atropelado. Nada mais eloquente que Mauro Carlesse despachar com ministros da República sem parlamentares do Estado.

Seria uma movimentação de fora para dentro mas que não teria resistências maiores no MDB regional carente de lideranças e poder político.  E na Lei de Coulomb, os opostos (se divergências ideológicas existissem) se atraem ao contrário de se repelirem. Princípio que pode muito bem ser aplicado à lógica política.

Além disso, Eduardo Gomes foi eleito senador com 248 mil votos (o mais votado), mesmo estando quatro anos sem mandato, depois de ter sido derrotado em 2014 pela senadora Kátia Abreu por uma diferença de apenas 6 mil votos. Inquestionavelmente em linha ascendente quando outros quadros regionais registram-se em queda vertiginosa..

Há rastilhos de que a operação estaria sendo orquestrada por Renan Calheiros (candidato a presidente do Senado) e envolveria um lugar na mesa diretora. Eduardo, que já foi primeiro secretário da mesa da Câmara dos Deputados, é um dos parlamentares mais articulados do Congresso e daria a Renan mais um voto do MDB a embalar o presidente Jair Bolsonaro.

Teria, entretanto, que mudar de partido. Tem uma semana para fazê-lo e bater o martelo com o MDB regional que não teria melhor oportunidade. O partido não seria árido a ponto de recusar um senador que, a priori, não despertaria qualquer resistência nos caciques modebas do Estado. Pelo contrário. Há fortes relações de amizade entre alguns. E abdicar do poder no Congresso e no Palácio do Planalto a dois anos das eleições municipais.

É uma ação que talvez não atraísse resistência também no Solidariedade, onde Eduardo é filiado, porque poderia continuar, no Estado, sob o comando do Senador, atualmente sua maior liderança. Sustentada pela indiscutível relação entre o presidente da legenda, Paulinho da Força e o parlamentar tocantinense. E, de quebra, um grupo político mais denso e de potencial para eleger o próximo governador do Estado.

No Estado, os outros dois senadores (Kátia Abreu e Irajá Abreu) tem perfis distintos. Kátia é publicamente contrária a Jair Bolsonaro e o PSD, de Irajá Abreu, fez parte da coligação da chapa adversária (Geraldo Alkimin) ao presidente eleito mas ainda não se posicionou.Oposições são mais que necessárias, fundamentais nas democracias. Mas para os governos, essa soma de fatores dá em outro resultado o que faz mudar princípios para ações mais pragmáticas.

Eduardo, assim, seria a opção para tentar equilibrar essa balança na bancada estadual e, de quebra, cabular mais naco de prestígio do MDB no Palácio do Planalto, fundamental para projetos futuros, dado que Bolsonaro tem possibilidade de manter-se no comando do país por oito anos.

E é aí que Mauro Carlesse vai ter que buscar grana para governar o Estado e dar ao vice, Wanderlei Barbosa (caso não seja eleito prefeito de Palmas) condições políticas e operacionais para manter o governo na sua base.

É um jogo pesado que explica, em parte, a exposição do governo na disputa pelo Legislativo: o presidente daqui a quatro anos (o mandato é de dois anos, podendo ser reeleito) pode assumir o lugar de Carlesse (caso Wanderlei renuncie para assumir a prefeitura).

E, se depender das movimentações de Wanderlei, poderia assumir o cargo o deputado Toinho Andrade. Uma baba numa disputa de reeleição com Eduardo Gomes, dada a impossibilidade de Mauro Carlesse disputar uma terceira eleição subsequente.

Essa situação pode fazer com que os formuladores políticos de Mauro Carlesse coloquem no radar a possibilidade de ter na senadora Kátia Abreu também uma opção. A Senadora, tudo indica, já percebeu essa engenharia e demonstra apoiar o governo Mauro Carlesse.

O problema é que isto fecha a equação: quanto mais Carlesse se aproxima de Kátia, mais se distancia de Jair Bolsonaro. O contrário, para Carlesse, também é verdadeiro. E, por pura lógica, fortalece o princípio de uma possível aliança Eduardo Gomes/Renan Calheiros/Jair Bolsonaro tendo o MDB como instrumento. Com repercussões na sucessão política estadual.

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