Excluindo-se os preciosismos semânticos e vocabulares, o discurso de posse do governador Mauro Carlesse nesta terça no Palácio Araguaia foi carregado de platitudes e boas intenções mais eleitorais que administrativas, contrariando a expectativa de que anunciaria reformas e projetos.
Num pronunciamento em que citou os servidores públicos por quase uma dezena de vezes, com uma enxugada pode-se ter duas assertivas: 1) o governo será um governo com autoridade (num claro recado a pressões de servidores) e 2) vai retomar obras paradas no Estado, iniciadas por governos anteriores.
Na primeira, evidentemente quando um governador precisa explicitar autoridade é porque teme não possuí-la. Até porque a autoridade que possui é apenas investida. A autoridade, na verdade, é da lei.
Na segunda, uma temeridade. No Estado, conforme o Tribunal de Contas (dados de outubro de 2018), existem cinco centenas de obras paralisadas (506 obras inacabadas), que envolvem recursos de R$ 3,6 bilhões.
O governo que Mauro Carlesse administrou por noves meses em 2018, investiu no ano passado míseros 2,5% do orçamento (R$ 271 milhões). Os R$ 5,5 bilhões gastos com servidores até ontem somados aos R$ 1,9 bilhão empenhados em outras despesas correntes (R$ 7,4 bilhões) superam em R$ 200 milhões as receitas correntes líquidas do Estado no período.
Ainda que tomasse os empréstimos de R$ 700 milhões (na Caixa e BB) para terminar as obras (apesar de na LDO e na Lei Orçamentária em tramitação não estar planejado isso), teria, ainda, um déficit de R$ 2,9 bilhões. Isto com o governo não pagando ou fazendo nenhum investimento novo.
É esperar para ver se Mauro Carlesse guardou o melhor do que tenciona, para anunciar na reforma administrativa que diz fará nos próximos dias.