Há uma pública aproximação positiva entre o governador Mauro Carlesse e a senadora Kátia Abreu. Intuo que se assim o concede, o governador o faz sob um cálculo político, mesmo que instintivo. Afinal, o governo ainda sofre para equilibrar-se e não é pequeno o desgaste do Governador pelas deficiências do governo na prestação de serviços à população. Ele tem razoáveis justificativas para defender-se, afinal não é o responsável maior pela atual situação. Mas a população quer ser atendida e ninguém quer morrer em hospitais por falta de ambulância, remédios e médicos.

Kátia dá ao governo, com efeito, circunstancialmente, ainda que dele não participe de forma efetiva, um pouco de ordem e substância política. Mercadoria em falta no Palácio Araguaia e no Legislativo cuja régua tem sido de outro sentido. E aí o problema: pode provocar resistência mais pelo que acrescenta do que por aquilo que hipoteticamente pudesse diminuir. Caberá a Carlesse controlar a tigrada que tem fome.

Foi Ministra da Agricultura, comandou por quase dez anos 30% do PIB do país, tem livre trânsito junto a organismos internacionais, nos grandes empresários que movimentam a economia brasileira e no Congresso Nacional. Uma chave para abertura de oportunidades ao Estado e destravar burocracias num momento em que o governo passa por uma crise financeira sem precedentes. Tudo que o governo mais precisa até mesmo para manutenção de poder político do grupo.

Isto porque Kátia, ainda que enfrente os efeitos de sua personalidade mercurial, adquiriu respeito dentro e fora do Brasil, mesmo eleita pelo Estado de menor densidade eleitoral do país, um dos menores PIB dentre as unidades federativas e de cultura conservadora. Pode-se falar de suas reações, não raro instintivas, mas não negar-lhe ativos administrativos e políticos.

Não é café pequeno tanto que, vice da chapa de Ciro Gomes, estava esta semana a defender pleitos do Tocantins junto a Jair Bolsonaro em favor de Mauro Carlesse, também seu adversário nas eleições suplementares de 2018.

O problema para Kátia é o tempo e o modo de enfrentá-lo. Tem quatro anos para zerar os passivos das eleições de 2018 e os desgastes dela e de sua prática política consequentes. Daqui a quatro anos terá que fazer a opção entre disputar a reeleição, o governo ou outro cargo. E até mesmo não disputar mais nada, algo pouco provável.

Neste contexto, corre em paralelo o senador Eduardo Gomes (aliado de Mauro Carlesse em 2018 e também com boa articulação no Congresso e um dos líderes de Bolsonaro) que pode ter em 2022 a ação que Kátia não teve em 2010 quando no auge de seu prestígio político (e com a queda do PMDB na cassação de Marcelo) poderia ter disputado o governo com chances de êxito e optou por resgatar Siqueira Campos de sua aposentadoria em Brasília.

Apostou em Marcelo Miranda em 2014 e sentiu-se traída por alegada falta de cumprimento de compromissos do governador cuja candidatura e eleição teve sua  participação. Kátia tinha projetos grandiosos para a área da educação e da agricultura, elaborados por técnicos de renome nacional que deram um norte e rosto à campanha, um projeto de desenvolvimento com sistemas. O PMDB eleito, tinha outros projetos. Rachada com o PMDB, disputou em 2018 contra toda a conjuntura desfavorável, assumindo riscos que não calculou adequadamente como se viu.

Politicamente, ainda que se possa defender a aproximação necessária entre congressistas e o governo em benefício do Estado, o que move isto tudo, em larga escala (e não poderia ser diferente nas democracias representativas) é a política e mandatos. E aí, tanto Kátia como Carlesse podem repetir ou não a história. A legislação impede Carlesse de disputar novamente o governo e pode, a Justiça Eleitoral, retirá-lo também da disputa de outros cargos em 2022. Caberá à Senadora e ao Governador colocarem em prática o aprendizado.

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Ponto Cartesiano

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