O ex-prefeito Carlos Amastha terá que modular a retórica para não passar à população que estivesse colocando a política a serviço de sua vontade. Como nesta, por gravidade e inércia, só cabem coisas particulares, seu interesse seria, a priori, o que dela dissessem respeito e não a terceiros materializados no público.

Deflagrou publicamente ontem (como vai no T1 Notícias) oposição à prefeita Cínthia Ribeiro (sua ex-vice) e ao governador Mauro Carlesse. Do Chefe do Executivo, nada a acrescentar dada a disputa eleitoral do ano passado. Anormal seria, desde já pré-candidato ao governo em 2022, Amastha se colocasse ao lado do Governador.

Não se pode dizer o mesmo do posicionamento em relação à sua sucessora. Amastha tem o direito legítimo de escolher seu candidato a prefeito e apoiar que ele achar melhor. Mudou o perfil da cidade. É verdade que teve a ajudinha da administração Raul Filho que, fora o desempenho na educação, era zero referencial. Ou seja, Amastha poderia declarar oposição a quem bem entendesse. O problema reside nas justificativas, realçadas pelo adversário agora declarado. Na mais primária relação criador-criatura.

Amastha, no entanto, credita o rompimento (que já era conhecido internamente) por falta de continuidade administrativa e política. Ele dá uma roupagem diferente com as políticas públicas sem apresentar algo concreto para justificar sua discordância. Ainda que apresentasse, Cínthia no cargo teria a competência para mudar o que observasse equivocado na proposta política e administrativa do PSB elaborada por Amastha que não poderia fazer como vice.

De outro modo: Cínthia, se deduz,  teria que, no cargo de prefeita, fazer aquilo que Amastha e o PSB (que são a mesma coisa) determinassem ou projetaram. E que se note: não se está falando de um governo de coalizão. E sim de aquiescência, renúncia, delegação de competência política e administrativa.

Uma indecência com a população da cidade que não pode (nem legal ou moralmente) ter a prefeitura terceirizada. Amastha, agora empresário, administrando os recursos públicos municipais, seja por intermédio do partido ou dele diretamente (no que dá na mesma) seria anti-republicano e imoral.

Das premissas do ex-prefeito que teriam sido proclamadas na noite de ontem (sem qualquer número estatístico que o fundamentasse nas críticas à administração) tem-se, paradoxalmente, que Amastha estaria rompendo com Cínthia por esta seguir à risca o princípio propagado pelo ex-prefeito de combater a velha política. E cujo exemplo mais eloquente é o toma-la-dá-cá explícito muito claro nas razões do racha, tomadas pelo próprio discurso do ex-prefeito.

No que interessa, a prefeitura de Palmas (e a população) desligou-se, com Cínthia, da tara tributária de Carlos Amastha (colocou a cidade com a maior carga tributária das capitais da região Norte do país),  isolou-se do duto de recursos públicos do BRT (apontado pelo MPF), está solucionando os estacionamentos, cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal à risca, tem obras por toda a cidade, universalizou a temática dos eventos municipais e desligou-se da roubalheira do Previpalmas (R$ 50 milhões) materializada na administração de Amastha que tinha controle do fundo, ainda que a competência das aplicações fosse do conselho.

Na verdade, desde que entregou a prefeitura, por força de lei  a Cinthia (para disputar o governo), a cidade inteira sabe que o seu candidato a prefeito seria o vereador Thiago Andrino. Cínthia seria uma mera esquenta-cadeira. Deu chabu. A prefeita resolveu trabalhar e se coloca na sucessão com direito à reeleição. Tem lá suas deficiências de fazer alianças políticas (que disse a este blog semana passada por não concordar com determinados pedidos e métodos empregados), mas faz seu próprio nome e a cidade não parou.

A saída, assim, foi o racha. Não contra Cínthia, mas a favor de Andrino (e dele próprio, Amastha). Andrino, por sinal, se movimenta, não raro, como uma extensão do ex-prefeito. Ainda que muito novo e com um futuro político pela frente.

Pode ter sido um erro estratégico de Amastha. Caso não dê êxito a opção-Andrino, ele terá na oposição a prefeita (se reeleita) do maior colégio eleitoral do Estado. Algo que o ex-prefeito poderia evitar simplesmente fazendo uso apenas de política. E não da bílis.

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