A Companhia de Energia Elétrica do Tocantins, mexe e vira, roda nos veículos de comunicação um comercial cabalístico, com um raciocínio escalafobético: o furto de energia acaba com o meio ambiente. A tese é a seguinte: quando o cidadão furta energia (numa gambiarra), esse furto obriga as companhias a produzir mais energia e, assim, construir mais hidrelétricas e, alakazan!!!!, atinge rios e florestas. E aí seria contra o meio ambiente furtar energia. De imediato faz-se emergir comparações relativas entre o lucro das companhias com a geração/distribuição/comercialização e os prejuízos das gambiarras. Neste caso, omite-se, logicamente, que estes prejuízos não vão para a empresa e sim para o bolso do consumidor. Deixa-se de lado que não vigora, a priori, preocupação com a natureza. Daí ser econômica e politicamente correto praticar o diversionismo e jogar tudo no caldeirão do meio ambiente. 

Ora, roubar energia é um crime, tem que ser  combatido com as leis em vigor, como diria, no raciocínio, naturalmente. No Estado, conforme a própria Celtins, as perdas de energia no ano passado (a diferença entre o que a Celtins comprou e o que efetivamente entregou ao consumidor final) alcançam a cifra de R$ 212 milhões. Os furtos de energia são apenas uma das causas das perdas.  Por outro lado, as hidrelétricas estão sendo construídas pela demanda de energia do país e não pelas migalhas das gambiarras, certamente uma minoria que ocorre justamente pela falta de fiscalização da própria companhia ou por deficiência de investimentos na ampliação da rede. 

Pois bem. No calendário da Agência Nacional de Energia Elétrica está previsto um reajuste nas tarifas de energia no Tocantins a partir do dia 4 de julho, depois de amanhã. Hoje, o tocantinense paga a sétima energia mais cara do país, apesar de sediar três grandes hidrelétricas (Peixe-Angical, Lajeado e Estreito). Ela foi reajustada em 24 de janeiro deste ano para 0,34423 o kilowat/hora. Apesar do governo federal ter prometido baixar a tarifa residencial  em 16%  e a industria em 28%,  lá na Aneel já está protocolada a proposta da Celtins para o reajuste a partir deste mês: 19,11% (IRT total). No Paraná, por exemplo, estava previsto um reajuste de 15% que o governo paranaense cancelou. Por aqui, não se vê  nada sobre o assunto, o ICMS da energia continua os 25% e por aí vai. E a atual tarifa vence amanhã, 3 de julho. Reajuste, portanto, quinta, dia 4. 

Não existe energia de graça, alguém tem que pagar o serviço e certamente não é o poder público que não gera renda, apenas arrecada do público que produz. Mas é deveras instigante que não se note qualquer discussão sobre o assunto no Estado, ainda que o poder público detenha 49% das ações da Companhia de Energia Elétrica do Tocantins. Estamos a dois dias de um reajuste programado (solicitado) de 19,11% (caso a Aneel assim o aceite) e nada se vê. Tampouco se ouve vozes dissonantes em relação à proposta disseminada de que o consumidor é quem vai bancar o prejuízo de R$ 42 milhões, um escândalo de saques injustificados feitos nos cofres da Celtins, por seus dirigentes, para outras empresas (particulares, diga-se!) do grupo (de um buraco de R$ 600 milhões). Só em Peixe-Angical, o passivo é de R$ 15 milhões e 635 mil. Como é que um governo de Estado endossa (passa batido) desvios de R$ 42 milhões de uma empresa na qual detem 49%? É óbvio que o governo do Estado tem um representante dentro da companhia e que estes desvios tenham acontecido em outras administrações. Mas por que não teria dado o grito? Os empresários pegam R$ 42 milhões (que também são públicos) e trocam de bolso, mandam para a algibeira privada e tudo fica por isso mesmo!!!  

Numa lógica cartesiana, quando um empresário retira recursos de uma empresa, sem que para reinvestimento ou aplicações,  ela certamente perde valor de mercado. O governo foi ressarcido por isto? Claro que sem o controle acionário, perderia no voto. Mas a operação teria, certamente, que ser fiscalizada, dada a participação de dinheiro público e a Celtins ser uma concessão. E aí? Onde entra o furto da energia e o meio ambiente nessa equação? De qualquer forma, o consumidor deve ficar esperto porque o silêncio pode significar um reajuste. Justificativas para tanto existem: a companhia está sob intervenção e não pode abrir mão da correção. O problema é que sobre esse furto não se antagoniza a questão ambiental.

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